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Emergência climática: como o design pode atuar para melhorar o cotidiano no presente e futuro?

Emergência climática, eventos extremos, ponto de não-retorno. Essas são expressões cada vez mais comuns no nosso dia a dia e que, até pouco tempo atrás, pareciam uma realidade difusa e distante, “para daqui a 30 anos”. Agora, não mais. O IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que “a mudança climática é real e a ação humana é sua principal causa”.

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Já estamos vivenciando os efeitos da elevação da temperatura média do planeta em 1,1º C e, para que a marca não aumente mais 0,4º C, seria necessário um conjunto de ações em massa em um ritmo acelerado. Várias nações entraram no pacto mundial de, até 2030, frear as contingências. Individualmente, todas as ações também são válidas. Podemos – e devemos – contribuir com o que estiver ao nosso alcance: mudar hábitos, consumir com mais consciência e promover transformações, ainda que em escala comunitária. É por aí que entramos no assunto desse post: qual o papel do design para amenizar a crise climática?

Design consciente

O design em suas diferentes manifestações – da arquitetura à moda, do produto ao gráfico – molda o mundo em que vivemos e sua ação precisa se inclinar, cada vez mais, a uma visão de futuro que compreenda as novas necessidades das pessoas e do planeta. Algo ainda incipiente, como aponta Graziela Nivoloni, professora e coordenadora do curso de Design de Produto e Serviço do IED (Istituto Europeu di Design).

Em 2014, o arquiteto David Benjamin, do novaiorquino @theliving.studio, utilizou tijolos @ecovative desenvolvidos em 2007 para estruturar o pavilhão ‘Hi-fi’ no @momaps1 | Fotos: Reprodução @ecovative

“O design pode atuar em muitos campos e camadas, na justiça climática e socioambiental, mas ainda estamos muito distantes disso. Não temos a quantidade e o ritmo necessário de iniciativas sobre o tema. Os profissionais criativos que desenham o mundo físico e intangível – das nossas relações – ainda não abraçaram com tamanha força essa mudança sistêmica. Sim, sabemos que isso é difícil, mas essa é uma perspectiva necessária para o futuro: prever a circularidade, a perenidade de um projeto, abrir mão de um ‘gênio criador’ e entender que há múltiplas inteligências e especialidades que têm propriedade para discutir seus microterritórios de igual pra igual. É uma grande mudança de postura. Quando o arquiteto, o designer e o criativo se percebem como um agente responsável para além do projeto, torna-se um educador dentro de sua rede, território e comunidade”, afirma Graziela.

Essa guinada apontada pela professora começa com ações simples como a virada de chave na especificação de materiais sustentáveis para um projeto ou levar em conta o impacto sistêmico de um novo produto para além da ergonomia, da funcionalidade e da estética. Mas, idealmente, pode ser ativa: uma revolução necessária e radical de todo um mercado. Uma nova forma de fazer, afinada com um mundo em constante mudança.

Boas práticas

O ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) deve estar no centro do universo do design – e de qualquer outro segmento econômico. O consumo consciente conquista cada vez mais espaço, e se alinhar com os eixos do ESG – responsabilidades que evocam toda a cadeia produtiva – vai deixar de ser uma vantagem competitiva muito em breve, para virar um pré-requisito para se manter no mercado.

“O designer pode fazer bom proveito dessa estratégia, para além da ampliação do seu alcance de mercado, porque concursos, linhas de financiamento e o público – especialmente os prosumers – já têm olhado e cobrado essa nova postura”, explica Graziela.

Essa consciência de um mundo urgente de novos hábitos acelera iniciativas que fazem refletir, como a aplicada pela empresa Tuim. Ela criou uma assinatura de móveis, em que o mobiliário é alugado sob demanda.

“Quando você tem um filho, precisa de um berço, mas não é um bem que seja necessário comprar, porque vai ser usado por pouco tempo”, exemplifica a professora, que continua: “a adaptação a uma vida mais fluida, com acesso e não posse, pode gerar, inclusive, inovações para a forma de projetar [nesse caso] o mobiliário, pensar o acabamento e a maneira mais eficiente de manutenção”.

No que tange aos materiais, novas tecnologias e a pesquisa pelos chamados biomateriais (sobre os quais tratamos em um outro conteúdo) são um filão para o design de produtos em todas as aplicabilidades, dos revestimentos aos utensílios, dos móveis ao universo da moda. A vanguarda está em aliar materiais e modos de produção que potencializem a redução de impactos. Bioplásticos, couros vegetais e micélio de cogumelos aplicados em objetos, luminárias e até tijolos (!) se somam a saberes ancestrais em métodos construtivos como a taipa de pilão, duráveis, locais e ecológicos.

Na urbe

No âmbito das cidades, os desafios são muitos. Um dilema comum é a falta de drenagem e a baixa permeabilidade do solo, fatores que desencadeiam imensos problemas sociais, econômicos e urbanos, especialmente na época das chuvas. Com volumes pluviais cada vez mais expressivos, tudo se agrava.

Além da baixa permeabilidade do solo que impede a vazão adequada das águas, o asfalto comum é um derivado do petróleo. Mas há alternativas presentes no mercado. A inglesa Tarmac tem 150 anos de história e, há cerca de uma década, desenvolveu um asfalto poroso que pode ser aplicado em rodovias e estacionamentos (assista ao vídeo acima). Com materiais aglutinantes, cria uma superfície capaz de drenar a água e minimizar os efeitos das inundações.

A mesma empresa produz, também, uma versão do asfalto que reduz emissões de carbono durante a fabricação e instalação em cerca 8%, além de minimizar os resíduos ao incorporar a borracha de cerca de 500 pneus descartados por quilômetro de estrada.

O projeto Eden – The Biomas, em Cornwall, projetado pelo escritório austríaco Grimshaw Architects, recuperou uma área degradada pela mineração | Fotos: Reprodução @theedenproject

A dinâmica urbana cotidiana também precisa ser considerada. É nas cidades que vemos de perto como os grupos populacionais periféricos sofrem em maior grau com os eventos extremos, a exemplo das chuvas torrenciais e das ondas de calor ou frio. Pensar em uma cidade mais acolhedora, segura e preparada para enfrentar essas crises passa pela arquitetura, pelo design e pelo urbanismo. Uma das ações com efeito positivo é o retrofit de edifícios, que minimiza a geração de resíduos, economiza até 85% da água e 95% da energia elétrica, que seriam gastos em uma construção realizada do zero, com a capacidade de ofertar moradias populares em regiões bem estruturadas da cidade.

Outro exemplo é o pensamento que institui mais áreas verdes, que embelezam, promovem a biodiversidade e reduzem os efeitos das ilhas de calor. Também são fundamentais as áreas de descanso sombreadas e as fontes públicas de água potável para uso coletivo, só para citar algumas alternativas que o poder público poderia realizar. Ponto extra é a atenção para a arquitetura biomimética, com inovações inspiradas na natureza e que, via de regra, são aliadas do meio ambiente.

Muito mais cabe nessa reflexão, e a DW! convida você a se juntar a nós nesse debate. Deixe mais ideias sobre o tema nos comentários ou em nosso Instagram. Aproveite e fique por dentro das principais notícias sobre o universo do design: basta assinar nossa newsletter, que conta com uma edição especial todas as semanas.

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