É ano da Bienal de Arquitetura de Veneza (@labiennale), mais especificamente, da 19ª edição do evento que abre oficialmente em 10 de maio e segue em cartaz até 23 de novembro. A curadoria em 2025 fica a cargo do arquiteto, engenheiro e professor do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts e do Politécnico de Milão, Carlo Ratti. O tema Intelligens. Natural. Artificial. Coletiva. olha para uma arquitetura que, mais do que nunca, precisa estar conectada às necessidades do tempo presente.
Para enfrentar um mundo em chamas, a arquitetura precisa aproveitar toda a inteligência que nos cerca”. Se “durante décadas, a resposta da arquitetura à crise climática centrou-se na mitigação — projetar para reduzir o nosso impacto no clima — essa abordagem já não é suficiente. Chegou a hora de a arquitetura abraçar a adaptação: repensar a forma como projetamos para um mundo alterado”, afirma o curador Carlo Ratti
Com programa concentrado em especial nos Giardini, no Arsenale e no Forte Marghera, a 19ª Bienal de Arquitetura de Veneza apresenta, como de costume, a exposição internacional de arquitetura, eventos colaterais e as mostras nos Pavilhões que não se limitam ao tema central, que se concentra em três elementos fundamentais: a crise climática, o volume populacional e o uso de IAs para o planejamento urbano.
Este ano, a bienal reúne 66 Pavilhões, sendo quatro estreias: Azerbaijão, Omã, Catar e Togo. O Brasil não participou de todas as edições mas, em 2023, conquistou pela primeira vez o Leão de Ouro pelo projeto Terra, com curadoria de Gabriela de Matos e Paulo Tavares. O júri declarou que o prêmio foi concedido “por uma exposição de pesquisa e intervenção arquitetônica que centraliza as filosofias e imaginários da população indígena e negra na procura de modos de reparação”.
Assista à premiação do Pavilhão do Brasil partir de 1h e 7 min e, em seguida, o agradecimento dos curadores
O tema em 2023, O Laboratório do Futuro, com curadoria de Lesley Lokko, focava em África como “o laboratório do futuro. Somos o continente mais jovem do mundo, com idade média igual à metade da Europa e dos Estados Unidos, e uma década mais jovem que a Ásia. Somos o continente em processo de urbanização mais rápido do mundo, crescendo a uma taxa de quase 4% ao ano. Esse crescimento rápido e em grande parte não planejado geralmente ocorre às custas do meio ambiente e dos ecossistemas locais, o que nos coloca na frente das mudanças climáticas, tanto em nível regional quanto planetário”.
Em termos do olhar para ancestralidades, saber seus apagamentos e observar que caminhos essa sabedoria indica, o programa de 2025 dialoga de certa maneira com o de 2023. E isso pode, inclusive, ser constatado na proposta do Pavilhão do Brasil, que acaba por tecer um diálogo entre Terra – proposta na Bienal anterior – e o tema geral da curadoria de Ratti.
Pavilhão do Brasil
(Re)Invenção surge como o título escolhido para a mostra, sob curadoria dos arquitetos Luciana Saboia, Eder Alencar e Matheus Seco, do grupo Plano Coletivo, para o Pavilhão do Brasil na Biennale. A proposta atravessa tempos e territórios a partir das recentes descobertas arqueológicas de infraestruturas ancestrais do território amazônico. A reflexão aborda as contradições e questões socioambientais das cidades contemporâneas frente a esses saberes. Em dois atos ou momentos, a exposição conta histórias que contradizem crenças arraigadas de que as populações amazônicas ancestrais seriam ‘menos avançadas’ ou consideradas ‘naïf’ em relação a outras civilizações, como Asteca ou Maia, por exemplo.
Hoje, sabemos que os povos ancestrais da Amazônia se organizavam em populações muito maiores do que se imaginava anteriormente. As florestas da região são, em grande parte, resultado direto da ação humana, fruto de uma ocupação equilibrada e do manejo cuidadoso da vegetação, em contraste com o modelo predominante na Amazônia atualmente, que com frequência reduz a paisagem a um cenário de devastação”, destaca Matheus Seco em entrevista à Fundação Bienal

O primeiro ato da exposição destaca como essas populações moldaram a floresta e criaram infraestruturas sofisticadas e adaptativas ao ambiente, há mais de 10 mil anos. O segundo ato deriva deste primeiro e examina a lógica da localidade e da adaptação das necessidades das cidades, tendo como base o ambiente singular e suas características naturais, sociais e históricas. Bom exemplo é a Plataforma-Jardim em concreto protendido que abriga plantas adaptadas ao bioma Cerrado, que requerem baixa manutenção e possuem alta resiliência, apropriando-se do contexto.
Trata-se de cartografar ações que constroem nosso legado cultural. Assim como essas populações originárias desenvolveram técnicas refinadas de ocupação e manejo do território, a expografia busca estabelecer um elo entre tradição e invenção, utilizando elementos que dialogam com o meio ambiente e propõem um ciclo sustentável de construção e reuso”, afirma Luciana Saboia.
A exposição é realizada em conjunto com o Ministério da Cultura e o Ministério das Relações Exteriores e leva em conta sua estrutura expositiva como parte consciente da narrativa. Para quem vai à Veneza, (Re)Invenção está no Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122. Para receber mais novidades como essa, assine nossa newsletter.