É muito provável que você já a tenha visto, usado e que ela faça parte de sua memória afetiva. Em especial, para quem passou a infância em Minas Gerais, no interior de São Paulo ou em alguma cidade da região Nordeste. A cadeira espaguete – também conhecida como ‘macarrão’ ou ‘de fio’ – faz parte do imaginário popular e do legado de design nacionais.
![Um dos modelos mais emblemáticos é a poltrona de ferro dobrada a frio com trama de fibras plásticas, desenvolvida em 1950 por José Zanine Caldas | Foto: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/ZANINE-cadeiora-espaguete.jpg)
Elas já podiam ser vistas em varandas e calçadas a partir da década de 1940, ainda com estrutura de madeira, e confirmaram sua vasta presença nas decorações dos anos 1970, 1980 e 1990. Com o tempo, foram sendo deixadas de lado e substituídas por móveis em outros materiais, como os tubulares ou em madeira, até reconquistarem o apelo cool como peças de design brasileiro. Antes reservadas aos alpendres e varandas mais simples, agora passam a fazer parte do décor descolado de salas, quartos e áreas gourmet, reverenciadas especialmente entre a geração millenial.
![Bancos e cadeiras 'espaguete' desenvolvidas por Alex Marinho (@ferro_espaguete), para o estande da DW! na Fenearte 2023 | Foto: Reprodução @ferro_espaguete](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/ferro_espaguete_358182700_1208562939834211_6222824114639844110_n-1024x1024.jpg)
Os modelos são diversos, mas a base estrutural é quase sempre a composta por um esqueleto tubular de metal que dá corpo à trama de fios plásticos. A cadeira oferece conforto com certa flexibilidade, além de permitirem ventilação pelo desenho vazado, o que é especialmente bem-vindo em regiões mais quentes. Embora onipresente nas casas brasileiras, ela passou diversas décadas à margem do sistema: um móvel barato, resistente, vistoso e de apelo popular. As cadeiras coloridas e leves podem levar como material-chave o PVC ou mesmo fibras naturais, cordas náuticas e fibras sintéticas, sendo o primeiro o que vamos, de fato, explorar aqui.
A pesquisadora Sílvia Karla de Oliveira Saraiva, em sua dissertação de mestrado, investigou o móvel e indica que “a cadeira macarrão, enquanto artefato material, é também um veículo de comunicação e expressão”. Patrimônio popular nacional – valeria sugerir seu reconhecimento como bem imaterial, não? – as cadeiras espaguete provavelmente surgiram por aqui no contexto do incentivo a processos fabris, por volta dos anos 1930, ainda que reservem elementos e feituras mais artesanais.
![Cadeiras criadas por Martin Eisler na década de 1950. O modelo foi fabricado e comercializado pela Móveis Artesanal | Foto: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/EISLER-MAIN-IMG_3362-1024x738.jpg)
No pós-Segunda Guerra, o uso do metal no mobiliário se consolidou de vez. No Brasil, Lina Bo Bardi, Flávio Resende de Carvalho, Paulo Mendes da Rocha e Jorge Zalszupin desenhavam cadeiras e poltronas que tinham sua estrutura fundamentada no metal e as conchas que formavam assentos e encostos traziam o couro como elemento recorrente.
Em sua pesquisa, Sílvia aponta que dois modelos são emblemáticos quanto à associação das superfícies vazadas à estrutura metálica: uma poltrona de ferro dobrada a frio com trama de fibras plásticas, desenvolvida em 1950 por José Zanine Caldas; e o modelo do arquiteto Martin Eisler (acima), posteriormente fabricado e comercializado com diferentes fibras – do plástico ao algodão – pela Móveis Artesanal (1950-55). Porém, engana-se quem pensa que as cadeiras macarrão são uma exclusividade brasileira.
![A cadeira Sandows traz no nome sua forma: cordas esticadas por molas e ganchos. O modelo data dos anos 1920 e é assinado por Rene Herbst | Fotos: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/sandow-_-divulgacao-1024x656.jpg)
Na França dos anos 1920
O francês Rene Herbst (1891-1982) estudou arquitetura em Londres e Frankfurt e fez viagens pela Rússia e Itália, antes de se radicar em Paris como decorador e designer de mobiliário. Em 1927, nasce sua cadeira Sandows (em tradução livre, Cordas Elásticas), com estrutura em aço tubular niquelado, além de assento e encosto compostos por tiras de borracha esticadas através de ganchos. A peça hoje faz parte do acervo do MoMA – Museu de Arte Moderna de Nova York.
![Silla Acapulco original, desenvolvida, pela empresa homônima. O móvel não tem origem certa, mas perdurou | Fotos: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/cadeira-acapulco-_-silla-acapulco-original-edit-1024x512.jpg)
Acapulco, meu amor
Na década de 1950, com origem um pouco nebulosa, entra na moda a cadeira Acapulco nas varandas e áreas abertas dos hotéis chiques da cidade homônima, no México. A inspiração parece ter sido as espreguiçadeiras feitas de tecido, comuns na costa do país. Como Acapulco era um destino de luxo nos anos dourados, a cadeira incorporou este charme e foi alçada a objeto de desejo. Ainda hoje é uma ótima alternativa para ambientes externos e internos, trazendo um clima relaxante e descontraído à ambientação.
![Terrastoel, ao pé da letra 'Cadeira de Terraço', é um modelo catalogado e - possivelmente popular - nas décadas de 1950 a 70, na Holanda | Foto: Cortesia Museu de Roterdã](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/Terrasstoel-893x1024.jpg)
Na Holanda? Tem também
Chamada ‘cadeira de pátio’ ou ‘de jardim’, em um exemplar muito parecido com o que vemos nas casas de nossas avós, está catalogada no Museu de Roterdã, na Holanda. Datada das décadas de 1950 a 1970, a peça pode ter sido bastante popular nesse período, com estrutura em metal tubular pintada e os espaguetes de borracha esticados longitudinalmente.
![As cores vibrantes dos trópicos estão nas cadeiras desenhadas por Sebastian Herkner em parceria com a Ames | Foto: Reprodução @sebastianherkner](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/sebastianherkner_358589110_667051148140518_1457572116207966260_n-819x1024.jpg)
Colômbia + Alemanha, com alma latina
O designer alemão Sebastian Herkner (@sebastianherkner) desenvolveu uma linha de móveis em parceria com a Ames (@amesdesign). As cadeiras (acima), mesas, espreguiçadeiras e outros itens levam a estrutura das nossas cadeiras espaguete de varanda, mas a familiaridade termina aí. As variações de formato são inventivas e exploram outras possibilidades, como as inspiradas em variedades de beija-flores.
![Algumas das peças da italiana Marni, desenvolvidas em parceria com artesãos e ex-detentos colombianos, em 2012 | Fotos: Francesco Jodice](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/marni-2012-_-reproducao-francesco-jodice-1024x741.jpg)
As peças são trançadas segundo técnicas de artesãos colombianos, que podem ser aprendidas nas escolas e passadas entre gerações. Os móveis espaguete são uma tradição na Colômbia, assim como no Brasil, e vistos como símbolos de hospitalidade e alegria.
Essa riqueza cultural, levou as cadeiras de varanda colombianas também a protagonizarem uma exposição da Marni (@marni), para a qual ex-detentos e artesãos criaram 100 móveis entre cadeiras, mesas, bancos e espreguiçadeiras utilizando materiais recuperados. A coleção foi apresentada no Salão do Móvel de Milão, na edição de 2012.
![A poltrona Banjooli também é uma criação de Herkner, agora para a Moroso. A parceria aqui é com artesãos africanos | Fotos: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/banjooli-chair-moroso-divulgacao-1024x586.jpg)
Alto design em plástico colorido
A italiana Moroso (@morosofficial) já explorou a técnica das cadeiras espaguete em mais de uma ocasião. Em 2013, o já citado Sebastian Herkner criou a série de mobiliário M’Afrique, cujo foco era a poltrona Banjooli (acima). Inspirada na dança de acasalamento dos avestruzes macho (banjooli na língua wolof), o móvel com estrutura de metal trazia encosto, assento e projeções laterais trançadas em redes de pesca ou PVC por artesãos africanos.
![Tropicalia, chiase longue, desenhada por patricia Urquiola para a Moroso (2008) | Foto: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/Tropicalia-chiase-longue11-e1690230129623.jpg)
Antes, em 2008, a designer Patricia Urquiola, já trabalhava o material e apresentou a Tropicalia Chair (foto de abertura do texto) e suas variações, como a espreguiçadeira (acima). A linha usa a estrutura de metal tubular do modelo Antiboldi e funciona como uma tela em branco, permitindo a combinação de duas ou três cores ou manter uma única, em fios de PVC ou couro.
![A poltrona Anêmona nasceu das pranchetas dos Campana em 2000 e é feita com mangueiras de jardim | Foto: Divulgação](https://dwsemanadedesign.com.br/wp-content/uploads/2023/07/anemona-campanas-1024x785.jpg)
Versão brasileira (ainda mais) vanguardista
Para finalizar nosso mergulho no mundo das cadeiras espaguete, vale resgatar um modelo bem diferente, mas que bebe desta fonte. Feita com mangueiras de jardim, a poltrona Anêmona foi desenvolvida pelos Irmãos Campana (@estudiocampana) em 2000 e fabricada pela italiana Edra. O material já havia sido explorado na poltrona Jardim, em 1995. Nesta versão ‘turbinada’, a peça tem estrutura circular em metal tubular e concha composta pelas mangueiras dispostas de forma (quase) aleatória.
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