O livro O Oráculo da Noite, do neurocientista brasileiro Sidarta Ribeiro, cruza vários saberes científicos, da psicanálise à antropologia, para analisar os sonhos. E um dos fascinantes temas abordados é como os povos indígenas se relacionam com o sonho de forma dialógica e ritualística, um desdobramento da vida em vigília. Ao explicar seu processo criativo, o artista Uruhu Mehinaku toca exatamente neste ponto de integração entre mundos e dimensões da consciência.
“Eu sonho e penso durante a noite e depois vou trabalhar”, afirma Uruhu Mehinaku.
Uruhu é morador da aldeia Kaupüna da etnia Mehinaku, na Terra Indígena do Xingu (Mato Grosso), e cria bancos esculpidos e únicos que vêm ganhando visibilidade internacional. Agora, estas peças assumem o protagonismo na exposição Uruhu Mehinaku e arte Mehinaku na galeria Herança Cultural (@herancacultural), em cartaz de 23 de março a 20 de abril de 2024.
As obras seguem a tradição dos povos originários e são fabricadas segundo técnicas transmitidas de geração a geração. Uruhu aplicou sua marca singular na feitura dos xepí, como são chamados os bancos tradicionais produzidos com uma única peça de madeira esculpida artesanalmente.
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Usados no cotidiano da aldeia ou em práticas rituais, os xepí são zoomórficos e revelam estruturas geométricas em suas composições. Entre os animais mais representados estão o tamanduá, a anta, a onça e os pássaros. Cada unidade é adornada por grafismos traçados com pigmentos naturais, que costumam ser vistos na pintura corporal e em outros objetos ritualísticos. O conjunto é impregnado de referências aos mitos, à cosmogonia das culturas e/ou a animais, cuja pelagem é representada de forma estilizada. Os pigmentos são extraídos artesanalmente: o amarelo vem do pequi; o vermelho, do urucum e da madeira mãwatan; e o preto, da madeira iurilo e do carvão.
Herança ancestral
Uma seleção de bancos em diferentes dimensões compõe a mostra na galeria Herança Cultural, com idealização de Katia D’Avillez e curadoria de Marisa Moreira Salles, Tomas Alvim e Danilo Garcia. A base da exposição é a Coleção BEĨ, com acervo de 1,3 mil bancos de madeira produzidos por artistas de 85 etnias indígenas provenientes de diversas regiões da Amazônia – sul, leste e noroeste e Guianas –, Alto e Baixo Xingu e região sul do Brasil.
“Nosso objetivo é não apenas mostrar o talento do artista, mas também promover uma apreciação mais profunda da arte e da cultura indígena e da necessidade urgente de compreensão do valor deste patrimônio, como propor paralelos entre este trabalho e criações de artistas como Zanine, Tenreiro e Zalszupin”, afirma Pablo Casas, galerista e CEO da Herança Cultural.
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A mostra procura quebrar estereótipos, promover a compreensão intercultural e o valor artístico da produção indígena. A função e a estética são extrapoladas por dimensões simbólicas e abrem novos horizontes de reflexão sobre as complexas relações entre as artes tradicionais e a cultura contemporânea.
“Os indígenas são os primeiros designers do Brasil. É natural que esses artistas pudessem chegar em galerias de arte e design. A ausência de mercado impacta esta produção e por isso é um componente importante no processo de resgate e fortalecimento da tradição”, destaca o curador Tomas Alvim.
Uhuru Mehinaku
O artista Uruhu Mehinaku recebeu a maior condecoração da cultura brasileira, a OMC – Ordem do Mérito Cultural, em 2015, e por meio da Coleção BEĨ, que pesquisa e documenta os bancos indígenas do Brasil, tem seus xepí presentes em um circuito expositivo museológico nacional e internacional. Entre os destaques estão a exposição Indigenous Peoples: Human Imagination and Wildlife, no Metropolitan Teien Art Museum de Tóquio (2018- 2019), que resultou no documentário Xingu-Tokyo: Conexão Ancestral.
Suas obras também foram apresentadas na exposição Benches of Brazil – Casa de América, Madri, Espanha (2023) e Reach to Forest – Kennedy Center, Washington DC, EUA (2024), além de diversas outras mostras de instituições brasileiras, como o MON – Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (PR).
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