Três profissionais criativos e uma inquietação. Esse é o combustível que alimenta a DEX, movimento e feira de design carioca nascidos em 2024 e que, este ano, é um dos destaques da programação da DW! Semana de Design Rio de Janeiro, de 10 a 15 de junho de 2025.
Os arquitetos e designers Pedro Galaso, Philipe Fonseca e Thiago José Barros sentiam falta de um evento de design no Rio que fosse plural, acessível e representasse a criatividade dos designers radicados na capital fluminense. Nessa inquietude, se uniram para promover um movimento que se diferencia por apresentar ao público o que se produz fora do domínio da grande indústria.
A abordagem holística da DEX, que tem o trio de designers como sócio-fundadores, considera o ciclo completo dos produtos, desde a matéria-prima até o descarte, primando pela criação de objetos duráveis, conscientes e responsivos às necessidades do planeta.

Conceito da feira-movimento carioca
A DEX – o nome vem de uma brincadeira com o sotaque característico do Rio, substituindo pelo ‘x’ o ‘s’ em dexcolados – possibilita aos designers formas de expor suas criações de maneira conceitual e abrangente. O movimento optou por se conectar a apoiadores e patrocinadores que valorizam o design produzido e desenvolvido em uma perspectiva vertical, ou seja, que desafia as normas da produção em massa. A ideia é se alinhar a uma visão mais consciente, colaborativa e artesanal, promovendo tanto o uso de matérias-primas mais disponíveis quanto os métodos de fabricação locais.
“O Rio estava carente de eventos de design. Os últimos realizados foram a IDA – Feira de Design do Rio, em paralelo com a ArtRio em 2018, e outro projeto capitaneado pelo Sebrae, que teve sua última edição nos pilotis do MAM-RJ há alguns anos. Esses incluíam arte e outras expressões da manualidade. Não havia uma feira exclusivamente de design”, conta Thiago José Barros.
Materiais em foco na edição da DEX realizada durante a DW! Rio
O principal pilar da DEX é a materialidade, que vem forte nesta segunda edição, que será dividida em dois momentos: o primeiro acontece em junho, durante a DW! Rio, pensado de forma mais conceitual na exposição Gênesis Tectônica; já a segunda fase será realizada em setembro deste ano, no formato de feira de design.
A exposição Gênesis Tectônica, que estará em cartaz na DW! Rio no CasaShopping, vai abordar a origem sensível do design e propõe um retorno ao essencial: à matéria. O ponto de partida são os materiais que vão compor os objetos e mobiliários da edição de setembro da feira DEX.
Os designers convidados apresentam instalações experimentais que valorizam as imperfeições e qualidades expressivas dos materiais naturais e reciclados. Plástico, madeira, compósitos, fibras e fios naturais, luz e aço carbono são alguns dos elementos que vão traduzir as potencialidades e complexidades técnicas e estéticas das matérias-primas.
“A gente quer provocar o designer para o estudo da materialidade, a partir de projetos de pesquisa que partam do material como protagonista”, conta Pedro Galaso.

Destaques e designers para não perder de vista na exposição
Uma das inspirações para a exposição Gênesis Tectônica vem da visão do arquiteto e urbanista Lúcio Costa, para quem “os segredos e minúcias da técnica estão sempre circunscritos às possibilidades do material empregado”. A mostra reforça, portanto, a conexão entre criador e material, chamando a atenção para os processos que nascem do contato e da resposta física dos materiais diante das intenções do criador.
Além de repensar a materialidade (e não a estética final) como gênese do design, Gênesis Tectônica pretende resgatar a autonomia do criador frente à máquina, colocando a tecnologia a serviço da ideia — e não o contrário. Significa inovar com propósito, adaptando a forma ao que a matéria pede, e não moldando a matéria ao que a imagem exige.
“A Tectônica quer entender como os elementos se unem dentro de uma composição articulável que vai para além da estética. São várias linhas projetuais e de pensamento que envolvem o design e fogem do exclusivamente digital, compreendem-se no tempo e no espaço”, explica Philipe Fonseca.
Dez designers contemporâneos foram convidados a apresentar instalações que revelam na exposição Gênesis Tectônica sua relação íntima com os materiais — não como um simples meio, mas como ponto de partida conceitual e poético:
- Pedro Galaso vai trabalhar fibras naturais em seu estágio primordial;
- Thiago José Barros, Henrique Canella e Felipe Madeira estarão focados na potencialidade da madeira;
- Guilherme e Leonardo Jarlicht, da Vaique, se debruçam sobre o plástico e os subterfúgios de seu uso;
- Já o duo da Assimply, de Victor Huggo Xavier e Søren Hallberg, reinterpretam o granilite através do compósito baseado em entulho;
- Luciana Duque parte das portas ‘de enrolar’ e propõe uma leitura poética por meio do aço carbono;
- A potência dos saberes geracionais vem na obra de Manu Almeida, que trabalha a cordaria em macramê.

DEX para de(x)conectar do meramente digital
Em sua primeira edição, realizada em 2024, a feira DEX reuniu 37 designers independentes com trajetórias singulares e foco em autenticidade criativa, responsabilidade ambiental e inovação consciente. No grupo, tem gente que acabou de entrar no mercado, reunidos com outros profissionais já contam com uma carreira madura, como forma de impulsionar contatos, visibilidades e trocas.
O movimento-feira se funda em 4 eixos: agência em fazer + herança familiar; materialidade; nova artesania; regionalismo + ancestralidade. E, muitas vezes, a DEX se coloca na linha tênue que define arte e design, fazendo refletir sobre limites e possibilidades.
Uma plataforma plural e educativa
A DEX também busca cumprir um papel social, para que o design possa ser o mais democrático possível. Não cobra ingressos para a visitação, porque entende que o design é feito pela pluralidade e para todos. Outra preocupação é quanto à expografia: em sua edição de estreia, os elementos que apresentavam as obras foram transformados em móveis que, posteriormente, foram doados.
“Não queremos ou podemos ocupar um lugar de desresponsabilização que parte apenas da busca da pela estética, sem se preocupar como ou em que condições os objetos serão feitos, qual a cadeia de produção ele vai incorporar e fomentar”, explica Philipe.
Posicionada também como uma plataforma para educar, a feira mantém uma parceria com o IED Rio – Istituto Europeo di Design, instituição na qual Pedro Galaso é coordenador do curso de Design de Mobiliário, contando com Philipe e Thiago como professores. Não por acaso, a exposição Gênesis Tectônica propõe ainda uma série de conversas sobre temas essenciais ao fazer criativo, como distribuir em vez de ‘cobrar’ ou usar os privilégios para reduzir desigualdades de oportunidades.
“Estar em contextos e lugares como a DW! e o CasaShopping faz o design autoral e independente chegar mais rápido a espaços antes inacessíveis. Nossa inquietude é a busca para o retorno da vanguarda do designer e dos experimentos que são parte da criatividade brasileira. Consumimos tanta referência internacional e, muitas vezes, o potencia local, as técnicas e materiais fundamentalmente brasileiros acabam ficando em segundo plano. Queremos dar força ao feito aqui”, afirma Pedro.
Visite a DEX durante a DW! Rio
A exposição Gênesis Tectônica realizada pela DEX fica em cartaz na DW! Rio 2025, que acontece no CasaShopping – Av. Ayrton Senna, 2150 – Barra da Tijuca, de 10 a 15 de junho. A entrada é gratuita.
Para receber mais conteúdos como este e ficar por dentro do que acontece no universo do design, assine a newsletter da DW! e siga nosso perfil no Instagram.