A gente sabe, esse tema é polêmico e está circulando. Mas não é de hoje que a curiosidade e a inventividade humanas flertam com os robôs e a Inteligência Artificial – I.A., seja na vida real ou na ficção. Hoje vamos falar desta nova realidade transformada pelas máquinas conectada ao design – mas, antes de começar, a gente convida você a uma viagem até um passado não muito distante.
Lançado em 2013, o filme de Spike Jonze, Her (Ela), tratava do envolvimento afetivo entre uma pessoa, Theodore Twonbly (Joaquin Phoenix), e o sistema operacional O.S., que se adapta às necessidades do usuário, Samantha (voz de Scarlett Johansson). À época, já existia a assistente virtual Siri (Apple), mas Alexa + Echo – mais interativos – só seriam lançados em 2014. E a gente nem imaginava como elas estariam tão presentes no dia a dia, em atendimentos telefônicos, aparelhos que automatizam funções da casa ou realizando funções mais complexas.
Em uma atmosfera pós-moderna – com ares retrô –, onde não era possível identificar traços típicos de um só lugar e que parece um mundo anônimo, anódino e globalizado, Her antecipava, de certa forma, a vida, os relacionamentos e afetos mediados pela tecnologia, propondo reflexões sobre a ligação homem-máquina. Passada quase uma década e adicionado o contexto pandêmico de isolamento, nossa interação e proximidade com a tecnologia se estreitou – e a presença de gadgets, programas e I.As. é cada vez mais massiva.
I.A. no dia a dia
A inteligência artificial já está entre nós. No cotidiano, em aplicativos, como o Google Maps, ela está implicada em processos como a previsão do volume de trânsito ou do melhor caminho para chegar ao destino. Nos e-mails, a I.A. pode ser utilizada na segmentação de contatos, triagem de spams e envios de respostas padrão. Na hora de ouvir música ou assistir a filmes e séries, é o emprego desta inteligência que transforma nossos dados em indicações relevantes para nossos gostos.
Mas 2023 é, certamente, o ano em que o termo I.A. foi mais difundido, popularizado e discutido. Afinal, a inteligência das máquinas ganhou protagonismo e nomes como ChatGPT, Mid Journey, Deep Dream, Genesis, ChatPDF, Murf, Bard, Jasper, Opus Clip, Dall-E, Fireflies e outros. Das escolas ao mercado de trabalho, praticamente nenhuma área está imune ao uso dessas tecnologias.
Em que dimensão? Bem, além do cotidiano e longe das projeções (ainda) distópicas à la Isaac Asimov (1920-92) – escritor de ficção-científica com títulos como Eu, Robô, O Fim da Eternidade e A Fundação –, o uso de I.A.s pode ser muito lucrativo. A consultoria McKinsey publicou um relatório apontando as I.A.s generativas como a ‘próxima fronteira da produtividade’, justapostas a áreas diversas como marketing, inovação, atendimento ao cliente e outras.
“Nos próximos três a cinco anos, a IA generativa poderá acrescentar de 150 a 275 bilhões de dólares aos lucros operacionais dos setores do vestuário, da moda e do luxo”, de acordo com as projeções da análise da McKinsey, em áreas muito próximas ao design de produto.
Bem, mas você deve estar se perguntando: por que a DW!, uma plataforma dedicada ao design está falando sobre inteligência artificial? Porque ela, agora, está de fato neste recorte do universo criativo.
Tilly Talbot, A.I. designer
Tilly2 ou Tilly Talbot – sobrenome que deriva da especialista de design de interiores Amanda Talbot – é uma criação do Studio Snoop (@studiosnoop) e é simplesmente a primeira I.A. voltada para design do mundo. A consultoria criativa e de design australiana foi fundada por Amanda e lançou Tilly durante a Semana de Design de Milão de 2023, na galeria Charles Philip.
O estúdio diz que tem como missão “melhorar o mundo físico que nos rodeia, com ênfase particular em tornar nossas cidades, lugares e espaços mais habitáveis, agradáveis e socialmente benéficos” – e Tilly ajudaria nesta jornada.
Segundo o site da empresa, Tilly “representa uma colaboração inovadora entre as inteligências artificial e a humana”. A ideia é que a I.A. auxilie no desenvolvimento do design de forma conceitual e visual com ênfase na sustentabilidade, na diversão, na resiliência, na comunidade e na diversidade para a melhora da vida das pessoas. O que o Studio Snoop afirma é que deseja usar “a tecnologia para um impacto positivo no meio ambiente e na humanidade”.
Uma das primeiras colaborações que Tilly fez junto aos designers do Studio Snoop é a coleção Bauhau.AI (@bauhau_ai). Foram cinco peças propostas até o momento, e todas alinham os princípios da escola alemã Bauhaus (funcionalidade, minimalismo, inovação e a conciliação entre artistas e artesãos) com pautas mais contemporâneas como biomateriais e materiais sustentáveis, além dos múltiplos usos.
A ideia é de um projeto colaborativo para além do estúdio: em Bauhau.AI, durante a Semana de Design de Milão, sugestões de como melhorar cada peça poderiam ser levadas em conta, e sua incorporação geraria atualizações diárias a partir do feedback oferecido à Tilly. Achou interessante? No Instagram da DW! a gente traz os detalhes das cinco criações.
Por baixo da superfície
Tilly serve a ações que podem gerar resultados práticos para seus criadores e uma comunidade que se beneficia de seus serviços. Mas a criação da I.A. passou ao largo do emprego meramente técnico.
Em entrevista ao site Dezeen, Amanda conta que o desenvolvimento de Tilly partiu de uma inquietação sobre a solidão: “Comecei a me deparar com a ideia de como a solidão pode levar as pessoas a recorrer à inteligência artificial e como isso pode realmente ajudar as pessoas a não se sentirem solitárias”. Parece algo descolado da realidade, mas pode não ser.
O podcast Vibes em Análise (@floatvibes), produzido pelos pesquisadores e psicanalistas André Alves e Lucas Liedke, produziu no episódio I.A. – Insconsciente Artificial reflexões sobre os impactos possíveis desse novo mundo à espreita, dentre eles, os da psique. Entre as questões abordadas há uma que pode gerar confusão: inteligência artificial não é o mesmo que consciência artificial. Você já pensou nisso?
Um dos pais da A.I., Alan Turing (1912-54), décadas atrás já indagava se uma máquina seria capaz de pensar além de um jogo de imitação. Suas provocações tocavam em temas que abrangem as complexidades humanas – como a solidão e a ética – e comunitárias, como a exclusão de pessoas dessa nova etapa da era digital, a vigilância extrema, as deep fakes e os reflexos no mundo do trabalho.
Pois é. Tem muita coisa pra gente pensar, positivas e desafiadoras. Para animar esse debate, deixe um comentário: conta pra gente o que você já sabe sobre a I.A. e como vê a atuação dessa ferramenta no design.
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