Muito tem se falado sobre a importância da valorização do patrimônio brasileiro material e imaterial: tradições, festas, modos de fazer e saberes ganharam lugar de interesse crescente nos últimos anos e as artesanias têm ganhado destaque no âmbito do design – seja nos produtos, nos sabores ou na moda.
Mas o que muita gente não sabe é que essa busca pela cultura brasileira já fazia parte da agenda de pesquisadores e artistas há tempos. Em 1938, o escritor, historiador de arte, crítico e um dos fundadores do Modernismo no Brasil, Mário de Andrade, estava à frente do então Departamento da Cultura da Cidade de São Paulo.
Naquele ano, Mário promoveu a Missão de Pesquisas Folclóricas, enviada ao Norte e Nordeste do Brasil, encarregada de gravar e filmar manifestações culturais populares, especialmente musicais, registrar fotograficamente e, também, coletar objetos etnográficos.
Os 85 anos dessa Missão pioneira é a inspiração do III Festival Mário de Andrade, que acontece nos dias 13, 14 e 15 de outubro em vários endereços no centro paulistano: BMA – Biblioteca Mário de Andrade (prédio sede e anexo); Praça das Artes (vão, mezanino e sala do conservatório); Praça Dom José Gaspar e Avenida São Luís. Há também atividades em diálogo direto com o Festival no CCSP – Centro Cultural São Paulo, Sesc 24 de Maio, Museu da Língua Portuguesa, Caixa Cultural e CCBB – Centro Cultural Banco do Brasil.
O Festival
Inteiramente gratuito, o evento celebra a literatura e o livro, estimulando o debate de ideias, a formação de leitores e a potência cultural de novas linguagens – de rodas de conversa a uma Feira de Livros. Mas não só: há espaço para várias expressões, entre teatro, dança, gastronomia, música, artes visuais e moda. O Festival quer repetir o sucesso de 2022, onde cerca de 20 mil pessoas passaram pelos eventos.
A programação plural desta terceira edição foi desenhada com a colaboração de curadores, especialistas em suas áreas. Entre eles, o escritor indígena Daniel Munduruku; a jornalista Erika Palomino; a pesquisadora Hanayrá Negreiros; a poeta e tradutora Lubi Prates e o artista visual Moisés Patrício. Ao todo são 135 atrações, entre as quais a DW! elegeu alguns destaques. Vem ver!
Missão de Pesquisas Folclóricas a Partir do Acervo do CCSP
Mantido pelo CCSP, o acervo da Missão reúne fotografias, instrumentos musicais, objetos de culto, gravações musicais e filmes, entre outros. Ao longo do Festival, pela primeira vez fora do CCSP, uma parte significativa desse material ganha o público na mostra Missão de Pesquisas Folclóricas a Partir do Acervo do CCSP, na Biblioteca Mário de Andrade. Além disso, fotos dos artefatos estarão distribuídas ao longo da rua Xavier de Toledo, ao lado da instituição. A exposição pode ser visitada de 13 de outubro a 22 de novembro, das 10h às 20h.
“Patrimônio inestimável da cidade de São Paulo, o acervo da Missão é pouquíssimo conhecido pelo grande público. Ao colocá-lo no centro do Festival, a Biblioteca joga luz sobre esse material que continua indispensável para pensar a cultura brasileira em toda a sua diversidade e complexidade. Vale destacar que esses registros também alimentam debates contemporâneos importantes, sobre temas como representatividade e narrativas artísticas dominantes”, afirma Jurandy Valença, à frente da instituição desde 2021.
Noites de Mário de Andrade com Cia. do Latão
A Companhia do Latão realiza cinco espetáculos em outubro na BMA. Todos tratam de textos teatrais e poemas cênicos pouco conhecidos de Mário de Andrade. “As encenações breves se organizam como parte de noites temáticas, de teatro de variedades. Cada noite homenageia uma das linguagens teatrais que interessaram ao escritor, combinando as artes tradicionais, teatro, ópera, música e poesia”, segundo a Cia.
Durante o Festival, no dia 15, às 20h – na BMA – é a vez da Noite do Circo onde a escrita de Mário toca o imaginário circense e carnavalesco. Três textos estão no programa e são musicados por Lincoln Antonio: Escritos sobre Piolin, o Monólogo do Elefante do Circo Sarrasani e poemas de O Carro da Miséria. Para assistir, basta retirar senha/ingresso na recepção da biblioteca, com uma hora de antecedência.
Feira de Livros
A Feira de Livros já é tradição no festival, mas desta vez conta com 52 livrarias e editoras, de grande ou pequeno porte, com diversos perfis editoriais. Entre elas estão a Editora 34, a Companhia das Letras e a n-1 edições.
As bancas estão abertas nos dias 13, 14 e 15 de outubro, das 10h às 19h, no entorno da Biblioteca, na Praça Dom José Gaspar e na Avenida São Luís. E a Dom José Gaspar vai sediar, ainda, um espaço gastronômico que deixa o evento ainda mais interessante, para aproveitar o dia inteiro de programações.
Diáspóricas
Na Sala do Conservatório, da Praça das Artes, a música brasileira é ‘uma mulher negra’. Diáspóricas – o Show é resultado da websérie documental sobre a Música Preta Brasileira produzida por mulheres musicistas, cerradeiras, amefricanas, sonoras, pretas e centrais: Lene Black, Sonia Ray, Érika Ribeiro e Nina Soldera trazem o repertório como referências na ancestralidade, na cultura e nas artes intercruzadas pelas histórias das artistas. Das 12h às 13h, no domingo (15).
Em família: conversas sobre literatura
O casal Eduardo Sterzi e Veronica Stigger, que acaba de lançar O livro dos sonhos: exercícios de onirocrítica – escrito por ela e ilustrado por ele -, fala sobre a linguagem que os une na vida, no trabalho, na academia e no fazer artístico. A conversa acontece no mezanino da Praça das Artes, no sábado (14), às 14h. Eduardo é professor de teoria literária, ensaísta, poeta e curador; e Veronica é professora escritora e curadora, autora dos premiados Opisanie Świata e Sombrio Ermo Turvo.
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