A artista visual Maria Lynch, nascida em 1981 no Rio de Janeiro, tem uma carreira que atravessa fronteiras e linguagens, com sua trajetória marcada por exposições em lugares como o Museu de Arte do Rio, a Barbican de Londres e a Gallery Oi Futuro. Com um currículo que inclui prêmios, residências internacionais e participações em grandes eventos como as Olimpíadas de Londres, ela transita entre pintura, fotografia, performances e instalações. Suas influências nada têm de óbvias, já que passeiam por estudos de Filosofia e Física Quântica além de elementos do corpo, do inconsciente e do Carnaval. O resultado são obras de cores exuberantes e formas orgânicas que exploram os limites do espaço e transitam no limite entre o real e o imaginário.
Ao longo dos seus mais de 20 anos de carreira, a arte de Maria Lynch segue em movimento constante, em uma jornada de experimentações. Ela é quem irá produzir uma das principais atrações apresentadas durante a DW! Rio, a instalação site-specific Disjunção Espacial. Quem assina a curadoria da obra é Elisangela Valadares, convidada pelo CasaShopping para realizar uma intervenção monumental na Onda Carioca, um dos ícones da arquitetura do local.
A DW! Rio acontece no CasaShopping de 10 a 15 de junho, mas a obra Disjunção Espacial poderá ser contemplada durante um período maior, entre os dias 4 de junho e 31 de julho de 2025. Uma exposição organizada pela curadora Elisangela Valadares também irá reunir no período telas de grandes dimensões e um percurso sobre a artista na Casa 70 Rio, localizada no CasaShopping.
Neste bate-papo com Lúcia Gurovitz, curadora da DW! Rio, e Luciana Andrade, coordenadora de Conteúdo da DW!, a artista visual Maria Lynch falou sobre suas referências criativas, a expectativa de participar da semana de design e as diferentes fases de sua obra. Confira!

DW!: Disjunção Espacial é o nome da sua instalação nesta edição do festival. O que ele significa?
Maria Lynch: Meu trabalho começou na fotografia e na pintura, sempre com o interesse de criar um campo ligado ao fantástico e ao imaginário. A pintura é como se fosse uma janela, uma representação de um mundo, e eu buscava alcançar as pessoas a partir dessa fantasia. Comecei então a produzir instalações imersivas, que criassem experiências sensoriais. E a Disjunção Espacial nasceu dessa vontade de quebrar a perspectiva formal e cartesiana, trazendo o lúdico. Sua primeira versão, feita há pouco mais de 10 anos, ocupava uma sala grande e buscava desconstruir esse espaço. À época, incluí um som de respiração, para que a instalação transmitisse uma natureza orgânica com um tom surreal. Agora tenho a oportunidade de recriar essa obra em uma dimensão completamente nova.
O desejo de fazer algo monumental já era antigo, então minha força do pensamento deu certo (risos) e agora vai ser muito interessante trazer a obra junto à Onda Carioca, que tem essa grande escala.
DW!: Quais materiais compõem a obra e como é este trabalho físico de lidar com estruturas imensas na arte?
Maria Lynch: Imaginei uma instalação composta de oito a dez membranas com uns 8 metros cada e achei que a proposta ficou muito potente. Só saberemos a quantidade e sua forma final na hora de montar, já que é uma arte site specific. As membranas são produzidas basicamente de tecido com acrilon, além de estruturas de arame para dar forma e movimento. No início, na época em que morava em Londres, fazia as esculturas misturando tecidos que eu garimpava. Eu ia participar de uma exposição lá, durante os Jogos Olímpicos, então fiz tudo com cola quente, em um fim de ano. Uma correria. Tempos depois, já no Brasil, chamei uma costureira para me ajudar. Utilizo muitas sobras de tecido, também encontro muitos na região do Saara [área de comércio popular no Rio de Janeiro]. Vejo uma certa analogia também com o Carnaval, esse olhar para o colorido e o espetacular.
DW!: Quais as grandes questões e temas mais presentes na sua arte hoje?
Maria Lynch: Minhas obras eram muito pautadas nos chamados filósofos da diferença, de quem eu gostava muito: Nietzsche, Spinoza, Deleuze. Uma turma que pensava sobre o devir e a potência do corpo, com uma vontade de afirmar um estado mais potente e puro. Com eles, percebi o quanto vida e obra são uma coisa só.
É o que você pensa, o que você sente. A obra de arte coexiste com você, é a extensão de um pensamento. Passei muito tempo na ideia do devir, no fato de que você está sempre se transformando e de que você não é nada, mas é a identidade que busca ser. Essa visão ainda é presente no meu trabalho.
No entanto, em um certo momento, comecei a estudar Física Quântica, o não-visível, o Bóson de Higgs [partícula elementar teoricamente surgida logo após ao Big Bang, confirmada em 2013, e que representaria a chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares e de todo o universo]. O Bóson é uma partícula real e, ao mesmo tempo, imaginária. Sua frequência e seu aspecto material coexistem – e ambos são reais, ao mesmo tempo. Comecei a pensar em como frequência e matéria equivalem. Essa menor partícula que existe é tão real quanto qualquer coisa.
Quando você coloca sua intuição e sua emoção no mundo, esse invisível passa a existir. Minha arte passa então a materializar as emoções e a trazer essa conectividade, a intuição e o sutil.
A Física Quântica vem trazer para o mundo a ideia de que o invisível existe. O Bóson de Higgs, inclusive, é chamado de “partícula de Deus” pelos cientistas, comprovando que a vastidão dessa energia é o que constrói tudo.

DW!: Nestes diferentes momentos que caracterizam sua obra, a cor parece sempre presente. Qual a importância dela para sua expressão?
Maria Lynch: O exercício da pintura é constante na minha prática, então a cor sempre me fez pensar. A forma gera cor, e a cor gera a forma. Essa linha tênue entre o abstrato e o figurativo vai se transformando – e essa suspensão sempre me interessou. Quando existe algo que você não consegue identificar à primeira vista, você fica mais atento e busca entender. Nesse exercício, as pessoas começam de fato a perceber as coisas e a se interessar para descobrir mais.
DW!: Qual a sua expectativa de expor na Onda Carioca, com sua obra vista pelo público amplo e diverso que frequenta a DW! Semana de Design no Rio de Janeiro?
Maria Lynch: Isto é o que eu mais amo: afetar a pessoa quando ela menos espera. Uma coisa é ir preparado para uma exposição em uma galeria, com todas as explicações e informações sobre o artista e as obras. Já quando existe o processo inverso, em que a obra aparece diante da pessoa, quando ela menos espera e fora do contexto, isso para mim é maravilhoso. É o ideal. O público é impactado de uma forma totalmente diferente.
Disjunção Espacial | Entre a fisicalidade e a interação
Instalação da artista Maria Lynch
Curadoria de Elisangela Valadares
Período de exibição: 4 de junho a 31 de julho de 2025
Local: Onda Carioca e Casa 70 Rio no CasaShopping | Av. Ayrton Senna, 2150 ou Av. José Silva de Azevedo Neto (Av. Via Parque) – Barra da Tijuca
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