O grupo M55 começou com uma loja de decoração que vendia quadros e obras de arte, em 2011. Dois anos depois, veio a oportunidade de integrar móveis de alto padrão ao portfólio e, com o tempo, a operação migrou para o design brasileiro de mobiliário. Não muito tempo depois, a marca se tornaria referência no mercado neste segmento.
Hoje, o grupo atua na gestão varejista de marcas de design brasileiro que incluem estudiobola (@estudiobola e @estudiobolsa.sp), Aristeu Pires (@aristeupiresdesign e @aristeupiresdesign.sp) e a multimarcas MADE (@made.55design), que abriga em seu interior a Folio. (@folio.living e @folio.sp), todas com participação na DW! Semana de Design de São Paulo 2025, com lançamentos, collabs e apresentação de portfólios repletos de ícones do design. O negócio inclui, ainda, um Centro de Distribuição que fornece todo o suporte necessário para as equipes de vendas, com máxima agilidade e controle de qualidade nas entregas.
Gradativamente, o M55 tem ampliado a gama de criativos e propõe uma forma diferente de gerir negócios dentro do universo do mobiliário. Quem conta um pouco dessa história e faz uma análise do mercado brasileiro de design é Cadu Correa, diretor de estratégia, expansão e novos negócios do M55.

DW! – Como começou seu interesse pelo design?
Cadu Correa – Meu interesse por design começou muito cedo e em uma correlação com a moda. Nasci em uma família em que a moda fazia parte do cotidiano. Minha mãe é, até hoje, representante comercial de tecidos. Atualmente, ela trabalha em um grupo têxtil que nasceu em 1939, o Rosset, talvez o maior do gênero no Brasil. Mas meu gosto pela moda era mais voltado à beleza, ao aspecto estético. Sabe quando você olha e se interessa por algo bonito? Era a minha forma de enxergar o mundo.
Por outro lado, eu queria compreender como as coisas funcionavam e como eram feitas: pesquisava sobre bicicletas, guitarras, cafeteiras, qualquer coisa que o desenho pudesse criar. Interessava-me pelos negócios, mas a vertente criativa era forte e eu tinha facilidade em achar caminhos fora do comum, do óbvio, para resolver problemas. Quando tive que escolher o que cursar na faculdade, acabei escolhendo a Publicidade porque, de uma certa forma, a profissão juntava um pouco desses dois mundos. A maior parte da população não tem consciência de que o design faz parte de tudo na nossa vida.
Nós somos e vivemos design. Hoje, me relaciono com o design de uma maneira consciente, funcional, muito além da ótica do belo que me moveu no início. O que acho bonito, sofisticado, é o que pode transitar durante o tempo, que se adapta ao mundo e à realidade.
DW! – Qual a importância do modelo de franquias ou da instalação de lojas próprias para marcas de design?
Cadu Correa – O mercado moveleiro no Brasil ainda é calcado em empresas familiares e que conduzem ‘formas de fazer’ por muitas gerações. Precisávamos criar uma fórmula para que uma história se pautasse muito mais rápido, porque essa é uma exigência da atualidade. O modelo que usamos é próximo ao que se vê nas concessionárias de automóveis, que traz várias portas de faturamento para um mesmo back-office operacional. Essa era uma forma de construir uma gestão de marcas mais profissionalizada para o varejo.
O M55 veio para mudar um pouco a lógica de empresas familiares: queríamos chegar a um formato que aproximasse quem cria e quem compra, olhando para o mercado de forma menos ligada a esse contexto em que uma marca se constrói formalmente a partir de um nome, através de décadas.
Hoje, o M55 opera com três marcas principais: Aristeu Pires, MADE e estudiobola. A MADE é nossa white-label e visa atender o projeto de negócios de forma mais completa, abarcando novos designers, por exemplo. O estudiobola veio por uma paixão, para que ajudássemos na construção e na consolidação da marca. Já trabalhar com o Aristeu é como se relacionar com um pai, com conhecimento extremo de design. Para cada uma das marcas o M55 aplica a responsabilidade comercial e estratégica, sem abrir mão do coeficiente emocional. Fazemos assim, porque sabemos que é possível atingir bons números vendo todo mundo crescer, de uma forma alegre e saudável. A vida simples é muito gostosa e tentamos trazer essa lógica para dentro do escritório.
Cada marca deve manter sua leitura criativa sobre o design contemporâneo, sobre o que entrega como lifestyle, e o M55 vê esses aspectos com dinamismo. Nosso negócio é pautado pela entrega de boas experiências e resultados tanto para quem vende, quanto para quem compra, sem deixar de usar ferramentas para que a mudança de vida atinja todos os envolvidos no trabalho. O M55 é uma ferramenta para que todo mundo possa prosperar. Se todo mundo fizer o micro, o macro está cuidado. O Brasil é o país das decisões micro, e a força está nisso, nas microgestões que causam, de fato, impacto.



DW! – É possível conciliar design autoral e modelos de expansão de negócios? Quais os desafios e como isso funciona nas empresas do grupo?
Cadu Correa – Conciliar design autoral e expansão produtiva é um baita desafio, mas existe espaço. Para começar, é preciso sair da bolha da prancheta e entender como o mercado consome. Às vezes, um produto que ‘não deu certo’ era novo ou velho demais para o que o mercado deseja naquele momento. O estudiobola, por exemplo, faz design autoral e tem um canal de produção assertivo e esse é um bom caminho.
Equalizar personalidade e inovação, além de atender as necessidades de quem consome, é a fórmula pro sucesso de uma marca. Afinal, caro é aquilo que não vende. Uma marca precisa entender quais nichos de mercado ela quer atingir. Por que faz? Como faz?
O M55 ainda não pode trabalhar com bureaux muito pequenos, porque precisamos de escala produtiva. Vou te contar uma coisa: o Brasil consome design de interiores como gente grande. Temos um mercado grande e forte, com necessidade de contar – por meio de nossas casas e espaços – a nossa história.
DW! – Por que consumir design ainda parece ser algo elitizado e qual a importância de democratizar esse acesso?
Cadu Correa – Há marcas maravilhosas que já democratizam o design, mas a realidade de grande parcela da população brasileira ainda não permite um consumo amplo. Veja a MADE, nossa white-label, ela serve para que possamos ter uma melhor capilaridade de negócios. Contudo, ainda assim, 90% das vendas acontecem por meio de profissionais especificadores, como arquitetos, decoradores e designers de interiores. No Brasil, a população média vive sob um grande nível de estresse por problemas sociais, fiscais e econômicos, então pensar e consumir design não faz parte do cotidiano, infelizmente. Mas somos uma sociedade jovem e que vai, cada vez mais, consumir design e arquitetura com consciência e acessibilidade.



DW! – Como o design brasileiro vem sendo recebido nos eventos internacionais? Há estilo, material ou nome que chame atenção lá fora?
Cadu Correa – O que o Brasil consegue entregar em termos de estilo, conceito e forma é demais! Se você me perguntar no que a gente ainda perderia pro design europeu, eu responderia, sem qualquer dúvida, que é na capacidade fabril. Não na produção em escala, mas no acesso ao maquinário e às tecnologias que chegam muito caras. As linhas de financiamento e a capacidade de compra da moeda e investimento, em mercados como o Europeu, são muito maiores do que aqui, no Brasil.
O brasileiro é muito bom em combinar materiais, por exemplo, porque a miscigenação está na nossa essência e é refletida em nossas casas, nas diversas formas de morar. Os europeus são muito bons em executar o produto, mas o aspecto criativo do brasileiro em combinar e resolver de forma mais sutil é inigualável. Não vejo o produto brasileiro perdendo pra ninguém, especialmente em termos de desenho. Basta observar em nossa história: temos arquitetos e designers revolucionários e inovadores e uma cultura muito, muito rica.



DW! – Para designers emergentes, quais feiras ou eventos são relevantes e interessantes para participar?
Cadu Correa – Essa é uma resposta difícil, porque depende da trajetória e dos objetivos de cada um. A estratégia de produto e desenho precisa estar atrelada à ótica de mercado. Antes de escolher uma feira, um festival, o designer precisa entender seus objetivos financeiros, o que ele deseja comunicar, como vai produzir e construir uma estratégia de marca. Todo esse processo leva tempo. Veja o estudiobola: eles têm mais de duas décadas de história, não foi uma construção rápida, mas há quem veja só a ponta do iceberg.
Além do mais, é preciso arcar com as consequências das escolhas: você, designer, quer desenhar para uma fábrica e viver de royalties? É um caminho. Você quer e pode construir sua própria marca e quer que alguém cuide da parte dos negócios? É outro. Agora, não corra. Ninguém acerta de primeira. Pessoas bem-sucedidas estão dispostas a adiar sua autorremuneração e, aos poucos, galgar novos passos.
O storytelling vende? Só se ele for real. Então, não se leve tão a sério: é só ser simples. Eu brinco que é bom ser como uma camisa de linho, que vai da praia à festa. Só seja e faça.
DW! – No contexto do design voltado ao mobiliário e aos objetos, qual o próximo tema que precisaria ser melhor discutido no mercado?
Cadu Correa – A comunicação com intuito de vender banaliza muito as coisas. Isso aconteceu com a expressão ‘design assinado’, por exemplo. O design assinado só existe porque foi pensado: uma criação está além da assinatura, porque há muitas horas de cadeira dedicadas a ela. A assinatura virou um atributo para o produto, mas nem sempre acontece o mesmo com seu processo e seu pensamento.
Por exemplo, o estudiobola é incansável na prototipagem. Esta etapa faz parte do processo e os produtos só são bons como são por conta desse processo. Nosso mercado não é uma linha de produção automatizada no sentido estrito, por maior que seja a escala produtiva e a tecnologia empregada.
Tudo passa pela manualidade. Não dá para entender o mercado moveleiro como compreendemos as fábricas de carros. Há o contato humano, tem que haver a conexão, o trato manual, a energia que vem muito carregada desse misto de mãos e maquinas. O processo é mais que importante, é essencial.
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