07 de abril de 2020 | por Roberto Cecato*
É sempre tempo de olhar, mas o que fazer quando as surpresas e inúmeros encontros do dia a dia se transformam em monotonia, nos dias sempre iguais da nossa casa, que nesses tempos de reclusão aprendemos a conhecer em detalhes?
Quem tem a fotografia como hobby ou profissão provavelmente sofre com as limitações impostas pela rotina das paredes domésticas, pela falta de assunto visual e de estímulo para produzir novas imagens.
Creio que os limites desse momento, tão favorável à introspecção, nos trazem uma grande oportunidade de olhar para dentro e ver coisas que não vemos habitualmente, perdidas na banalidade do cotidiano.
Explico: no nosso dia a dia, os afazeres domésticos são uma obrigação fastidiosa que suportamos para dedicar a nossa atenção ao mundo que nos circunda, às pessoas, enfim, ao que acontece fora de nós mesmos.
No final das contas é uma agitação constante que nos afasta da nossa realidade e da nossa própria natureza.
Quanto tempo normalmente dedicamos a ouvir nossos íntimos sentimentos, a pensar nas nossas escolhas e no que fazemos de nossas vidas?
Pois bem, esse tempo agora existe, e para quem se dedica ao olhar, como nós fotógrafos, é uma rara oportunidade de olhar para o trabalho que temos feito, refletir, organizar e redescobrir o sentido e a razão pela qual fotografamos.
Pesando nisso, recentemente fiz uma edição de Falando de Fotografia com o tema Fotografando em Casa, e aborda a produção de Luis Humberto, um grande personagem da fotografia brasileira.
Muitos fotógrafos tiveram produções notáveis nos ambientes domésticos, fazendo de suas casas o seu tema, como Duane Michals, André Kertész, Josef Sudek, Otto Stupakoff e Eugene Smith, apenas para citar alguns.
Olhar através do próprios limites muitas vezes permite aprofundar a nossa a percepção do mundo, como sugere o grande fotógrafo Elliot Erwitt: “para mim a fotografia é a arte da observação. É encontrar algo interessante numa situação ordinária…Tem pouco a ver com as coisas que vemos e tudo a ver com o modo em que vemos.”
A fotografia é a arte de congelar o tempo, e nesse tempo suspenso em que vivemos agora, finalmente podemos nos dedicar ao que não podemos fazer habitualmente, como:
– rever o nosso Instagram, depurar o que publicamos e fazer um projeto de publicação mais consistente, buscando exemplos e referências que possam ser inspiradores.
– organizar o nosso arquivo, editando imagens esquecidas e refletindo sobre o que fizemos, projetos abandonados e idéias que ainda podemos colocar em prática.
– fotografar em casa, redescobrindo nas pequenas coisas os sinais que nos identificam.
– fazer um diário visual desse momento, observando com um novo olhar as coisas às quais não prestamos atenção.
– estudar e aprofundar nosso conhecimento em algo que nos interessa, seja técnica ou expressão.
– conhecer melhor um autor que nos atrai, um estilo ou um período que possa se conectar com o que fazemos.
– ler reflexões inspiradoras sobre a fotografia, ou outro tema que nunca tivemos tempo para abordar.
Este momento não vai durar para sempre, e quando passar teremos um frenesi de pessoas procurando contatos, retomando suas atividades, e se apresentarão oportunidades e novas possibilidades.
Quem estiver preparado para esse momento estará pronto para assumir um papel de destaque numa economia que se reativará rapidamente, onde a concorrência será grande e o nível de exigência muito maior.
O tempo de se preparar é agora, unindo o útil ao agradável e fazendo desse momento de isolamento a semente de um recomeçar melhor.
Mas muitas vezes não sabemos exatamente o que fazer ou onde buscar informações na grande floresta da internet, onde todos falam de tudo e reina a confusão.
Em geral estamos tão envolvidos com o que fazemos, e já vimos tantas vezes as nossas próprias imagens que não temos isenção para julgar, avaliar e direcionar o nosso trabalho para onde queremos.
O ideal ter seria alguém que pudesse olhar de fora e nos ajudar a rever e desenvolver a nossa fotografia. Assim pouparíamos muito tempo, desgaste e energia.
Muita gente desiste e desanima porque não vê como evoluir, e embora veja bons resultados no que faz, acaba achando que não é criativa o suficiente ou que nunca vai atingir resultados como os que ela admira.
Na verdade a evolução na fotografia está ao alcance de todos, o que falta é saber se situar num contexto e entender qual caminho seguir. No site da Fotoweb Academy você pode encontrar muitas idéias que podem lhe ajudar a encontrar um caminho na fotografia.
* Roberto Cecato voltou ao Brasil em 2012 após 21 anos em Milão, onde realizou projetos e campanhas para grandes marcas como Gucci, Yves Saint Laurent e Burberry, além de colaborar com revistas como Vogue Italia, Casa Vogue e Wallpaper, e realizar exposições individuais na Italia, França, Portugal, Alemanha e Brasil. No Brasil ganhou o prêmio de melhor capa de revista brasileira de 2012, com editorial para a revista Casa Vogue, e o premio Abril em 1998, com a revista A&D. Hoje reúne os princípios de marketing digital à sua experiência para dar vida a uma linguagem dirigida às novas mídias, e criou a plataforma Fotoweb Academy, dedicada ao ensino de fotografia.