O universo do mobiliário urbano vem despertando o interesse de Guto Requena há mais de uma década, abraçado como uma peça-chave para melhorar a experiência e a convivência nas cidades. O arquiteto, designer e consultor criativo do Senac São Paulo, a partir do estúdio que leva seu nome, tem desenvolvido projetos como a instalação interativa Eu Estou (2015), que convidava o participante a sentar-se em um banco, tirar uma foto de si e escolher dentre seis emoções aquela que sente no momento: amor, alegria, surpresa, raiva, medo ou tristeza. Cada uma era representada por uma cor, que filtra a foto no momento em que ela aparece na galeria de arte digital, gerando gráficos exibidos na fachada principal do prédio da FIESP, obra-prima do arquiteto Rino Levi na Avenida Paulista.
Há cerca de 4 anos, o Estúdio Guto Requena fundou o Juntxs, laboratório para estudos de empatia, design e tecnologia, que tem como objetivo desenvolver experiências e instalações imersivas e afetivas em diferentes escalas, explorando este potencial para estimular sentimentos, emoções e conexão entre as pessoas. De esculturas e fachadas a aplicativos, o lab tem projetado mobiliários urbanos e outros experimentos que fazem repensar – e sentir novamente – as superfícies das cidades e o impacto das relações entre pessoas e espaços urbanos, em todas as camadas possíveis.
Em 2025, junto com o corpo docente do Senac Santo Amaro, o arquiteto promoveu um desafio entre alunos para desenvolvimento de um mobiliário urbano. A avaliação ocorreu em diversas etapas, e o projeto vencedor foi escolhido em novembro por uma comissão de especialistas, incluindo Lauro Andrade, CEO e idealizador da DW!. A ideia será implementada em escala real na próxima Semana de Design de São Paulo, de 5 a 15 de março de 2026.
O projeto será revelado muito em breve e, enquanto isso, confira um bate-papo com o arquiteto, designer e consultor criativo do Senac São Paulo sobre o assunto.
DW!: O que é mobiliário urbano?
Guto Requena: Mobiliário urbano são móveis que a gente coloca na rua. Eles podem ter função ou não, desde um ponto de ônibus até lixeiras ou bebedouros. De modo geral, o mobiliário urbano é tudo o que dá suporte à vida na rua. Mas também podemos pensar que, antes de tudo, o mobiliário urbano é uma potência enorme para unir, para convidar ao olho no olho e ao sorriso. Tem uma questão funcional muito importante, mas também um aspecto poético e afetivo que guarda um enorme potencial – e o Brasil é o lugar para a gente pensar esse tema.
DW!: Quais os principais desafios no momento de projetar mobiliário urbano contemporâneo?
Guto Requena: Cada obra de design urbano traz várias camadas de desafios. É preciso imaginar que essa estrutura vai estar na rua, no sol, na chuva e nas intempéries. Além disso, as pessoas usam intensamente e de várias formas o mobiliário: o skatista passa com o skate, as pessoas sentam, pulam. Também pode ter vandalismo, então a estrutura precisa ser de fato resistente. O mobiliário urbano precisa ser pensado de forma diferente em relação do design localizado em espaços privados.
DW!: Que tipos de experiências os mobiliários urbanos podem oferecer para o público e para a cidade?
Guto Requena: São muitas as possibilidades. Podemos pensar no uso de cores, já que a nossa cidade é tão cinza. Ou mesmo imaginar que o mobiliário urbano pode virar uma grande luminária durante a noite, ajudando a deixar o local mais seguro e convidar, através da luz, as pessoas a ocuparem aquele espaço. Mobiliário urbano também abriga vida, então pode ter plantas, casas para abelhas sem ferrão ou morcegos.
Pensar no mundo multiespécies através do mobiliário urbano é muito interessante, assim como trabalhar com o lúdico, com algo que seja divertido e agradável de usar.

DW!: Como será o mobiliário urbano do futuro, na sua visão?
Guto Requena: A gente está pensando em um futuro que, acima de tudo, fala de empatia, de tecnologia e de sustentabilidade. Então a gente vê agora o uso de materiais biobaseados, de impressão 3D e, particularmente, estou muito curioso com a inteligência artificial.
Quanto mais a gente qualifica a rua e ela fica mais bonita, quanto mais mobiliário urbano, mais as pessoas se empoderam e entendem que a rua é nossa. A rua é o lugar para falar de afeto, e o futuro é sobre isso.
DW!: O Senac Santo Amaro realizou um desafio junto aos alunos para a elaboração de um mobiliário urbano. O que você já pode antecipar sobre o projeto selecionado, que será uma das atrações da próxima DW! Semana de Design de São Paulo?
Guto Requena: A gente convidou os alunos do Bacharelado de Arquitetura para desenvolverem um mobiliário urbano, uma instalação que falasse de coletividade. Essa atividade foi um momento muito rico, porque a gente tem o futuro do design naqueles alunos, tão jovens, trazendo um olhar sobre o coletivo e sobre a cidade. Foram mais de dez projetos inscritos pelos alunos na primeira fase, depois selecionamos cinco projetos e, desses, um foi escolhido. Todos ficaram lindos. O projeto vencedor se chama Corpo Coletivo, está muito bem resolvido e muito bem acabado.
Este projeto que estará na DW! em 2026 fala sobre a potência e a necessidade da gente olhar para o lado e estar próximo do coletivo. Somente no coletivo essas grandes ideias acontecem.
DW!: Quais características mais interessantes você destacaria no projeto Corpo Coletivo?
Guto Requena: Ele fala sobre o poder do coletivo e utiliza um recurso muito simples, que é o jogo de espelhos. Conforme as pessoas se posicionam em volta dessa escultura de espelhos, elas poderão enxergar uma parte do corpo dela e partes do corpo das outras pessoas, que também se aproximam da instalação. Também é um projeto que usa o bambu, material que desperta muita curiosidade. É um recurso ancestral que a gente tem utilizado muito na arquitetura contemporânea, com novas possibilidades. O projeto, portanto, fala do coletivo, fala de mundo sustentável e de um mundo biobaseado.
É uma escultura que vai emocionar as pessoas e que aborda a virtualidade de uma maneira analógica, que é o espelho. Na DW!, vamos ter este projeto incrível executado na rua, para as pessoas poderem experimentar, sentar e ativar a coletividade na semana de design.
