acontece

Pavilhão do Brasil abriga a mostra Terra na Bienal de Veneza 2023

DETALHES DO ACONTECIMENTO

DATA: 20 de maio a 26 de novembro de 2023

LOCAL: Pavilhão do Brasil | Giardini Napoleonici di Castello, Padiglione Brasile, 30122, Veneza, Itália

Na edição 2023 da Biennale Architettura em Veneza, o Pavilhão do Brasil propõe repensar o passado para desenhar possíveis futuros, trazendo para o centro do debate agentes esquecidos pelos cânones arquitetônicos, em diálogo com a proposta curatorial da edição, Laboratory of the future (Laboratório do futuro).

Partindo de uma reflexão entre o Brasil de ontem, o de hoje e do futuro, o Pavilhão do Brasil abriga a mostra Terra, que coloca a terra como elemento poético e concreto no espaço expositivo. Para isso, o piso do pavilhão será literalmente aterrado, colocando o público em contato direto com a tradição dos territórios indígenas e quilombolas, além dos terreiros de candomblé.

A primeira galeria do pavilhão modernista é Decolonizando o Cânone e questiona o imaginário de que a capital do Brasil foi construída em meio ao nada, em um processo de apagamento de povos originários e o posterior deslocamento que foi imposto a eles, na direção das periferias. Obras em múltiplos formatos preenchem a galeria, desde a projeção de uma obra audiovisual da cineasta Juliana Vicente – e criada em conjunto com a curadoria, comissionada para a ocasião -, passando por uma seleção de fotografias de arquivo, organizada pela historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, até o mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola, comissionado especialmente para mostra.

A segunda galeria, batizada de Lugares de origem, arqueologias do futuro,  abre com a projeção do vídeo-instalação de Ayrson Heráclito – O sacudimento da Casa da Torre e o da Maison des Esclaves em Gorée, de 2015 – e se volta para as memórias e a arqueologia da ancestralidade. Ocupada por projetos e práticas socioespaciais de saberes indígenas e afro-brasileiros acerca da terra e do território, a curadoria parte de cinco referências essenciais:

  • Casa da Tia Ciata, no contexto urbano da Pequena África no Rio de Janeiro;
  • A Tava, como os Guarani chamam as ruínas das missões jesuítas no Rio Grande do Sul;
  • Complexo etnogeográfico de terreiros em Salvador;
  • Sistemas Agroflorestais do Rio Negro na Amazônia;
  • Cachoeira do Iauaretê dos Tukano, Arawak e Maku.

 

“Nossa proposta curatorial parte de pensar o Brasil enquanto terra. Terra como solo, adubo, chão e território. Mas também terra em seu sentido global e cósmico, como planeta e casa comum de toda a vida, humana e não humana. Terra como memória, e também como futuro, olhando o passado e o patrimônio para ampliar o campo da arquitetura frente às mais prementes questões urbanas, territoriais e ambientais contemporâneas”, contam os curadores Gabriela de Matos e Paulo Tavares.

A curadoria conta ainda com a participação do povo indígena Mbya-Guarani, povos indígenas Tukano, Arawak e Maku, Tecelãs do Alaká (Ilê Axé Opô Afonjá), Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho), Ana Flávia Magalhães Pinto, Ayrson Heráclito, Day Rodrigues com colaboração de Vilma Patrícia Santana Silva (Grupo Etnicidades FAU-UFBA), coletivo Fissura, Juliana Vicente, Thierry Oussou e Vídeo nas Aldeias.

A exibição demonstra que terras indígenas e quilombolas são os territórios mais preservados do Brasil, além de apontar para um futuro pós-mudanças climáticas no qual decolonização e “descarbonização” convergem. Práticas, tecnologias e costumes ligados ao manejo e produção da terra, como outras formas de fazer e de compreender a arquitetura, estão situados na terra e carregam o conhecimento ancestral para ressignificar o presente e desenhar outros futuros para o planeta.