Dá para imaginar? Na Torre Pluralista, idealizada pelo arquiteto italiano Gaetano Pesce, cada um dos pavimentos seria projetado por um arquiteto diferente em São Paulo. Isso mesmo: este projeto imaginado entre as décadas de 1980 e 1990 para São Paulo trazia a proposta ousada de exibir fachadas e ambientes internos diferentes em cada um dos apartamentos, compondo um verdadeiro mosaico de estilos, formas, cores e materiais.
O edifício residencial seria construído no bairro de Campo Belo, localizado na zona sul de São Paulo. Cada pavimento seria dúplex e projetado por um profissional diferente. Entre os nomes cotados, havia Ruy Ohtake, Carlos Bratke, Paulo Mendes da Rocha, Eduardo Longo, Miguel Juliano, Ricardo Julião, Paulo Casé, Eduardo de Almeida, Marcos Acayaba e Roberto Loeb. Haveria ainda uma segunda torre, projetada por Acácio Gil Borsoi, Siegbert Zanettini, Sérgio Bernardes, Pedro Paulo de Mello Saraiva e Abrahão Sanovicz.
“O desenho da Torre Pluralista (…) assenta num princípio diferente: territórios sobrepostos e dotados dos serviços necessários tornam-se plataformas que podem ser adquiridas por diferentes proprietários que, com a ajuda de outros arquitetos, decidem como desenhar a “pele exterior” e a disposição interna de cada andar, resultando em um edifício altamente inovador. O agregado das diferentes linguagens arquitetônicas testemunha o nosso tempo, a sua complexidade, a sua diversidade, a sua natureza incoerente e heterogênea, os seus múltiplos valores, a sua energia. A torre se tornaria a imagem de uma arquitetura política, pluralista e democrática e um manifesto sobre o estado da arquitetura contemporânea”, explica Gaetano Pesce sobre sua concepção para a Torre Pluralista
Para que cada andar tivesse uma personalidade única, seria explorada a diversidade de acabamentos na fachada e até mesmo posições diferentes de janelas e varandas. O que tornaria possível esta façanha seria a estrutura do prédio, com pontos de sustentação mais concentrados ao centro da edificação, para que as fachadas e os layouts dos apartamentos pudessem ser criados com total liberdade. Todos os profissionais envolvidos, claro, deveriam considerar as normas gerais de um manual preparado pela empresa responsável pelos empreendimentos.
A ambiciosa construção, no entanto, não saiu do papel por questões econômicas e falta de interessados. Mas sua ideia permanece despertando opiniões apaixonadas contrárias e a favor, o que diz muito sobre a natureza provocadora e criativa de Gaetano Pesce. Para o arquiteto e designer italiano, que nos deixou em abril de 2024 aos 84 anos, a Torre Pluralista seria uma ode à democracia e à liberdade, vista como diversos territórios sobrepostos que traduzem a pluralidade cultural, em contraponto aos edifícios baseados na repetição das formas. O resultado inovador dessa soma revelaria a complexidade e a energia de uma época, em uma arquitetura-manifesto.
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