Se você segue a DW! também no Instagram provavelmente acompanhou a divulgação das palestras do Connectarch Summit, evento digital sobre design e arquitetura, promovido pela Eliane e Decortiles. Grandes nomes nacionais e internacionais falaram, nos dias 10, 11 e 12, sobre arquitetura, design, criatividade, ciência, tendências, tecnologias e comportamento, e provocaram reflexões sobre hábitos de consumo, modos de vida, maneiras de lidar com a natureza e utilizar inovações em um mundo onde as mudanças – às vezes inesperadas – acontecem em um piscar de olhos.
Reunimos alguns destaques dos três dias de programação.
ESTUDOS FUTUROS
No primeiro dia do evento (10/08), os arquitetos Sarkis Semerdjian e Fernando Forte; o estilista Ronaldo Fraga e o futurista Peter Kronstrøm estiveram no palco no primeiro dia de evento, falando sobre o tema Mentes Criativas.
O futurista dinamarquês Peter Kronstrøm abordou o tema Future Connect – Transformações Contínuas – Estudos futuros.
De acordo com Kronstrøm, “o futuro sempre pode ser muito mais maluco do que possamos imaginar”, por isso, os estudos futuros servem para nos ajudar a tomar atitudes inovadoras hoje. “O futuro não existe, ele é uma série de possibilidade infinitas, mas, ele também tem sempre boas notícias. É claro que tem muitas coisas injustas, coisas que não estão dando certo, mas a possiblidade de conseguir realizar sonhos nunca foi tão grande como é hoje. Nós vivemos um movimento de criações para a liberdade do indivíduo, com novas soluções para a casa, para a humanidade. Nós, passamos 75% do nosso tempo pensando no futuro, então, eu sempre digo que estudar o futuro é da natureza humana e os arquitetos têm um papel fundamental neste sentido, porque eles pensam o futuro a longo prazo. A arquitetura está criando o futuro e os profissionais desta área têm que abraçar essa questão da libertação do indivíduo”.
Trabalhando com futurismo há mais de 10 anos, Kronstrøm indicou 14 macrotendências que vão influenciar as decisões das sociedades daqui para frente, mas, advertiu que algumas mudanças não-lineares como a pandemia, a chegada dos smartphones ou a erupção de um vulcão, por exemplo, podem acelerar alguns processos e apontar para novas direções.
“Falar sobre estudos futuros é falar sobre imaginação. Hoje, nós vivemos numa sociedade em que valorizamos os direitos humanos, mas queremos mais sustentabilidade, porque as mudanças climáticas são uma realidade, apesar de alguns dizerem que não. Então, uma tendência forte é a criação de cidades regenerativas, com casas que produzem mais energias do que consomem, por exemplo. Com muito mais desenvolvimento tecnológico, mais diversidade e mobilidade. Quando falamos do futuro do transporte, com a chegada dos carros elétricos e autônomos, as pessoas poderão gastar o tempo de deslocamento para outras atividades, porque não precisarão se preocupar em dirigir”, destaca o especialista.
De acordo com ele, outras macrotendências que ajudarão a formatar o futuro são: a procura pelo bem-estar, o empoderamento feminino, novas configurações de famílias, principalmente no que diz respeito às pessoas morando sozinhas e aumento da expectativa de vida, com mais idosos com saúde tomando decisões. “Olhando para todos estes pontos, é neste sentido que eu digo que os arquitetos precisam se enxergar como criadores do futuro. Porque estamos com esse poder na mão, com a tecnologia e com conhecimento. Só precisamos buscar as inovações”, conclui o futurista.
Natureza
Futuros Possíveis, tema que norteou as palestras do segundo dia (11/08), que trouxe o doutor em Cosmologia Luiz Alberto Oliveira, a futurista Daniela Klaiman, a cientista especializada em pesquisa e comportamento de consumo Andrea Bisker, Lisiane Lemos – uma das principais lideranças jovens do país, e Dror Benshetrit designer, pensador, inventor e futurista.
Um dos nomes mais importantes da arquitetura internacional, Dror, abordou o tema The future of ecological harmony. O designer, pensador, inventor e futurista, cuja engenhosidade resulta em uma gama impressionante de trabalhos não convencionais comoventes, afirma que “é preciso trabalhar através de várias disciplinas, pois o mundo está mudando, de novo. Tem alguns pontos críticos e como designers ou pensadores, precisamos dar apoio a essas necessidades que são muito importantes para nossas vidas e nosso planeta.” Em um panorama nada animador, Dror traz dados urgentes para uma reflexão. “Em trinta ou quarenta anos, vamos dobrar. É muito difícil, mas precisamos pensar nas densidades urbanas. Um problema massivo e somos parte disso, por isso, essa vida urbana tem que mudar. Precisamos parar com essa loucura, não dá para continuar com esse tipo de sistema. Precisamos sim, construir mais casas, mas precisamos encontrar outra forma.”
O designer acredita que tudo tem que estar em conjunto, reinventar novas formas, mudar as motivações e trabalhar entendendo o que acontece a curto e longo prazo. “Usamos mal a sustentabilidade. Precisamos pensar o que significa viver em harmonia com a natureza e podemos achar a solução, o equilíbrio.” Ele aposta no objetivo de encontrar uma tipologia que não seja apenas a construção por si só, mas algo que se espelhe na natureza. “A natureza se organiza muito bem em células. Podemos conseguir a mesma densidade, reduzindo a quantidade de estradas se usarmos o formato de células. Os carros, por exemplo, vão transitar mais facilmente nesse modelo.”
Uma lógica celular tem várias formas diferentes, podem ser retângulos, quadrados, mistura de formas com vegetação. É possível adaptar situações do terreno e é muito fácil fazer isso com o sistema celular, além da questão emocional, segundo Dror. “Quando organizada em forma celular, se tem igualdade, compartilhamento e cria-se relacionamentos. Por isso é tão importante pensarmos a respeito do fluxo nessas construções.” Para ele, a forma linear a qual estamos inseridos, “é muito chata”, e explica que a forma celular não se trata apenas da lógica estrutural, mas de aprender com a natureza, por isso avaliam a posição do sol e dos ventos antes de construir. “Trata-se da melhoria do comportamento congnitivo na qual é possível aumentar a produtividade devido aos estímulos que a natureza tem sobre o nosso cérebro.”
É urgente construir melhor, mais rápido e mais barato, segundo o arquiteto, mas, para isso, alguns hábitos precisam ser esquecidos. “Temos hoje melhorias tecnológicas incríveis que permitem nos ajudar nos processos fabris, mas creio que estamos numa crise de imaginação. Temos que utilizar as novas tecnologias para criar coisas com elas. Criar formas complexas e mais interessantes, porque continuamos a fazer coisas com as mesmas abordagens. Uma das coisas que aprendemos nesse tempo é que estar na natureza nos faz sentir bem, nos faz sentir mais equilibrados, melhores consoco. Chegamos ao ponto de que muitos de nós está cansado de tantas inovações tecnológicas. Não estou dizendo que não devemos evoluir tecnologicamente, mas não podemos esquecer que somos parte da natureza.”
HABITAÇÕES POPULARES
Com intervenções e insights levantados por Rita Wu, arquiteta e especialista em tecnologia, o último dia trouxe palestras com Lara Kaiser, diretora de Healthcare e Operações no estúdio de São Paulo da Perkins&Will; Laurent Troost, premiado arquiteto belga radicado no Brasil; Danny Spiewak, COO do Grupo Vitacon, responsável por todas as operações da organização, e cofundador da Housi, onde é COO da plataforma Multifamily PropTec; e Alejandro Aravena, vencedor do prêmio Pritzker 2016, reconhecido por seus projetos habitação social e diretor executivo do escritório Elemantal S.A.
Alejandro Aravena falou sobre os desafios e soluções encontradas na hora de construir habitações populares, quando a principal dificuldade é resolver a equação valor do investimento estatal em contraste com as necessidades pessoais e sociais das famílias de baixa renda. O arquiteto afirmou que a arquitetura é uma função estratégica da forma, que os projetos devem acolher a vida e como políticas governamentais de habitação são uma importante ferramenta de combate à pobreza.
Aravena contou sobre sua experiência na construção de casas populares pré-fabricadas e montadas com a utilização de robôs, com estruturas que não precisarão passar por grandes reformas com o passar do tempo. “Todo o projeto é discutido com as famílias que vão morar ali. A ideia é que o estado forneça a casa, a infraestrutura, que é o mais caro, e as famílias finalizem suas moradias de acordo com suas preferências. Outra questão nos nossos projetos é sempre ter em mente que eles poderão ser aumentados por quem vai morar ali, fazendo o que no Brasil vocês chamam de ‘puxadinho’. Por isso, a gente sempre deixa um espaço capaz de oferecer essa possibilidade nos nossos projetos”, finalizou o arquiteto.
O Connectarch Summit foi promovido pelo Connectarch, o programa de relacionamento das marcas Eliane e Decortiles. Além das palestras, os comentaristas Pedro Ariel, Nicholas Alencar e Rita Wu, e drops com convidados especiais nos intervalos, trouxeram ainda mais conteúdo. O evento foi transmitido para toda a América Latina, com tradução simultânea para português, inglês e espanhol, e ainda teve interpretação em Libras – Língua Brasileira de Sinais – e recurso de áudiodescrição para pessoas cegas ou com baixa visão.