DW! Tour Brasília 2025: Sanagê Cardoso realiza exposição que investiga um dos objetos mais eficientes do design

Uma das grandes atrações do DW! Tour Brasília, realizado de 9 a 13 de setembro no Casapark, será a exposição de Sanagê Cardoso. O artista visual apresenta seis esculturas da série Neoclipes, produzidas em aço e pintura automotiva eletrostática. Em grande escala, as peças com mais de 2 metros de altura retomam a linguagem neoconcretista e flertam com a pop art e o design gráfico. Suas obras atualmente integram diversos acervos particulares e de museus de arte contemporânea, além de fazerem parte de mostras coletivas e individuais nos últimos anos.

O mais interessante na obra de Sanagê é ter um único elemento como ponto de partida criativo: o clipe de papel. Um objeto de design onipresente no cotidiano que chama a atenção por sua simplicidade e eficiência. “Sigo descobrindo muitos aspectos do clipe, mesmo depois de tantos anos de produção. Quanto mais investigo, mais vejo o quanto tenho a aprender com este produto e que ainda posso fazer muito a partir dele”, comenta o artista carioca, que vive em Brasília há 53 anos. “Atualmente tenho explorado o que chamo de fragmentos, que são esculturas criadas a partir de pequenos detalhes dos clipes, captando uma pequena curva ou outro elemento”, completa.

Obras Neoclipes, com dimensões de 2,80m x 4m x 2m, compõem instalação no Espaço Alta Vista | Fotos: @artistasanage

“Sem abandonar as suas fontes de referência construtivistas, Sanagê não se aprisiona à teorias restritivas nem fórmulas determinadas pela academia e pela zona de conforto. A partir da banal e cotidiana imagem dos prendedores de papel, os clipes, ele aumenta as proporções e cria uma sucessão de obras de grande impacto, destacando e catalogando soluções formais obtidas através da dobra desses clipes que reforçam as linhas diagonais e surpreendem pela sua elegância e pela sua capacidade de identificar o elemento original. Ao mesmo tempo, encanta pela revelação de novos procedimentos criados através da potência regeneradora da ação artística”, analisa o curador Marcus de Lontra Costa.

DW!: Como a arte passou a fazer parte de sua vida?

Sanagê: Minha manifestação artística começa na fotografia. Eu já desenvolvia um trabalho autoral e fotografava clipes de papel com lentes macro, criando imagens super aproximadas. Cheguei a realizar exposições, enquanto conciliava fotos comerciais e autorais. Quando a câmera digital começou a prevalecer, por volta de 1994, decidi transformar as imagens abstratas que eu produzia na fotografia em algo real, tridimensional. Meu interesse foi na direção da escultura em aço carbono e inox, especialmente em 2004, com influências marcantes de Amilcar de Castro, Franz Weissmann e Alexandre Calder. Fui buscar formação, tanto no aprendizado prático para soldar, cortar e lixar como em algo mais conceitual, na Faculdade de Artes Dulcina de Morais.

DW!: Os clipes estão muito ligados a sua produção artística. O que atrai seu olhar para este objeto de design tão simples e cotidiano?

Sanagê: Sempre fui muito curioso, e os clipes chamavam minha atenção pela eficiência. Desde sua invenção há mais de 100 anos, praticamente não sofreram alterações e funcionam com perfeição. Imagine algo exercer pressão, sem sequer possuir uma mola, com um formato extremamente simples.

Muitas vezes me vi dobrando, transformando os clipes, tentando alterar sua forma, mas não há o que mexer – ele é um objeto absoluto, da mesma categoria de um alfinete ou o zíper. Tudo isso torna o clipe um item de design fascinante. Por isso transformei o clipe em um elemento essencial da minha identidade como artista. Costumo dizer que não faço esculturas, mas desenvolvo conceitos escultóricos.

DW!: Como acontece seu processo criativo?

Sanagê: Começo com protótipos ou maquetes em papel cartão, arame ou outro material que tenha à mão, para depois criar esculturas de grandes formatos, com 2, 3 e até 14 metros. Tenho mais de 500 maquetes guardadas, mas crio algo novo a cada encomenda ou exposição. Na produção das esculturas, uso principalmente aço carbono, metal, estruturas industrializadas de tubos quadrados ou retangulares. Em meu laboratório, no meu fazer diário, já experimentei outros materiais, mas apenas como testes. O metal é a matéria-prima que domino com maestria. Na criação, sempre inicio a partir da estética do clipe, construindo e desconstruindo suas linhas. Crio formas que preservam o clipe como objeto, por mais que no resultado possam lembrar outros itens.

Minhas obras sempre trazem o gesto e a dinâmica de cortar, lixar, pintar, que são processos que ganham muita visibilidade nas obras.

As esculturas de grandes dimensões retomam a linguagem neoconcretista e flertam com a pop art e o design gráfico | Fotos: Divulgação

DW!: Que sentimentos ou ideias você busca transmitir em suas criações?

Sanagê: Adoro quando as pessoas enxergam coisas inesperadas nas minhas obras. Se alguém me fala “Isso parece um pássaro” eu respondo: “Isso é um clipe” (risos). Muita gente se espanta e então repara nas linhas, desdobra mentalmente a peça e encontra o clipe. Esse diálogo com o público, as conversas, as descobertas e o desejo de conquistar mais pessoas motivam meu processo. Outro ponto importante é a relação entre sombra e luz, muito presente em meus trabalhos e que refletem as raízes na fotografia.

Uma característica ligada ao sentimento é o uso do laranja: esta é uma das únicas cores que contém maior vibração positiva e traz um estímulo intelectual. O laranja vibra além do limite, por isso a escolhi.

DW!: Como será sua exposição no DW! Tour em Brasília, no Casapark?

Sanagê: Vou exibir obras da minha mais nova fase, de esculturas amassadas produzidas com tubos, que potencializam meu trabalho e meus paradigmas conceituais a partir do clipe. Serão seis trabalhos de 2 a 3 metros de altura que destacam os gestos e processos envolvidos. É um momento de evolução da proposta teórico-conceitual da minha arte. Fico muito feliz com essa oportunidade de expor no Casapark, que é um grande parceiro, e colaborar com a formação de público voltado à arte.

Mais interessante ainda é envolver um objeto de design, o clipe, convidando a um novo olhar para as inúmeras possibilidades de torná-lo obra de arte.

 

DW! Tour Brasília
9 a 13 de Setembro de 2025
Casa Park | SGCV Sul 12/22 Ae Shopping, Casa Park – Guará, Brasília/ DF
Programação em breve no site da DW!. Assine a newsletter para receber as novidades!

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