Desde o final de 2023, o burburinho das redes sociais com as hashtags #brazilcore e #brasilcore tem chamado a atenção. Voltamos (e ganhamos!) ao Oscar, e a brasilidade segue influenciando da moda à música. Dados da Embratur indicam que, nos meses de janeiro e fevereiro deste ano, mais de 2,8 milhões de estrangeiros desembarcaram no país, o que indica um crescimento expressivo de 57% em relação ao mesmo período de 2024.
E, bem, estamos em peso na Semana de Design de Milão, de 8 a 13 de abril, tanto dentro como fora do Il Salone (Espaço Brasil – pavilhão 3), com quase 100 marcas e designers presentes. A DW! está nesta cobertura especial e traz alguns highlights entre lançamentos, mostras e instalações que revelam o melhor do design made in Brazil no Fuorisalone.
Emergentes e consagrados
O projeto Comune (@comune.obj) levaa arte, design e suas intersecções de forma integrada a espaços urbanos inusitados. Em sua segunda edição em Milão, o local escolhido para a ocupação é o Superspatial, escritório interdisciplinar cujo propósito é de usar a arquitetura como ferramenta para transformar contextos e desafiar o pensamento convencional. No Comune está a cadeira Yara, do Estúdio Prosa (@estudioprosa), que usa técnica de dobragem a vapor e tem assento e encosto curvados pelas intempéries.
Os trabalhos de Murilo Weitz (@muriloweitz), por sua vez, fazem parte da mostra Conscious Objects, do Isola Design Festival (@isola.design) que “combina sustentabilidade, funcionalidade e ludicidade com o artesanato digital, robótico e humano”. Weitz apresentou a coleção Ninho de Pássaros na última DW!SP, na Galeria Metrópole à convite do Estúdio Niz, com cestos, luminárias e tapeçarias.
Se os designers em ascensão estão no Fuorisalone, o Estúdio Campana (@estudiocampana) também está. Os irmãos Fernando (1961-2022) e Humberto Campana dispensam apresentações, após décadas no circuito das grandes feiras e eventos e uma série de criações assinadas para grandes marcas italianas, como Queeboo, Alessi, Edra e Paola Lenti. Referência no design brasileiro contemporâneo, o design Campana já integra coleções de museus como o MoMA, em Nova York, com peças como a cadeira Vermelha.







Humberto Campana agora lança, junto à Paola Lenti (@paola_lenti_official), a poltrona Miriade. A peça conta com estrutura de aço inoxidável e almofada de malha de poliéster, com cobertura da chamada Maglia Rasata, um tricô. Formado por unidades singulares e interligadas, o estofamento é um sistema e resulta da observação de pequenos insetos em comunidade – mais especificamente, as joaninhas verdes. A poltrona faz parte do projeto Metamorfosi, parceria entre o designer brasileiro e a marca italiana, envolvendo uma ONG que atua com imigrantes de África. A coleção tem como fio condutor o uso de retalhos, cordas e tecidos que seriam descartados e que dão forma a assentos e tapeçarias.
Para arrematar, Paola Lenti também faz uma reedição de um design brasileiro fundamental: o da poltrona Azul, criada pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-92) para sua Casa de Vidro. Minimalista em sua estrutura de metal, Azul vem com cintas aparentes e almofadas soltas para assento e encosto.
“Numa foto que retrata a ampla sala de estar da Casa de Vidro, me chamou a atenção uma poltrona estofada que, com design tão simples, dialogava bem com as obras de arte e antiguidades ao redor e com a natureza selvagem visível pelos grandes vitrais. Na Azul encontrei afinidade na atualidade do design e no uso de alças à vista para apoiar as almofadas”, conta Paola Lenti.
Ornare Milano
Uma obra sensorial que se transforma ao longo do dia, assinada pelo estúdio milanês Parasite 2.0, marca a participação da Ornare (@ornare_official) na Semana de Design de Milão. No showroom da empresa no Palazzo Gallarati, na via Manzoni, a instalação Nimbo traz um círculo luminoso que interage com um tecido iridescente, produzindo efeito etéreo. Assim como a luz do Sol muda com o passar das horas, a percepção do espaço se altera graças a recursos de cor, reflexão e movimento. Desse modo, a experiência convida os visitantes a fazer uma pausa para apreciar o ritmo do tempo.

Inaugurado no ano passado, no Quadrilátero da Moda, o showroom da Ornare em Milão (@ornare_milano) recebe ainda a segunda edição do projeto Art All Around, com curadoria de Marina Conde. A proposta é intensificar a relação entre arte e design de mobiliário por meio da exposição de obras contemporâneas. Entre elas, estão os trabalhos abstratos criados pela brasileira Lara Matana com lâminas de madeira vindas da fábrica da Ornare.
Também participam artistas representados por galerias italianas e reconhecidos por sua pesquisa com diferentes materiais: Anne e Patrick Poirier, Luca Boffi, Maria Elisabetta Novello, Mattia Bosco e Thorsten Brinkmann. Além das obras de arte, quem passar pelo local conhece a Colette Collection (2024) e a Timeless Collection (2023), que sintetizam o traço elegante e duradouro do mobiliário da Ornare.
Piloto Milano
Pelo segundo ano consecutivo, o Piloto Milano (@piloto_milano) leva criativos brasileiros contemporâneos a uma exposição de vanguarda no Fuorisalone, durante a Semana de Design de Milão. A curadoria é do jornalista e diretor criativo Ricardo Gaioso.
Dentro da programação do distrito 5vie, Piloto Milano está em cartaz no Cavallerizze, um dos espaços para eventos do Museo Nazionale Scienza e Tecnologia Leonardo da Vinci. O lugar em si já valeria a visita: construído no século 16 como Monastério Olivietano, foi transformado no século 19 em um quartel militar austríaco, com os estábulos – Le Cavallerizze – ocupando a área do jardim.








Danificado por bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial, o complexo monástico sofreu uma primeira renovação radical logo após o conflito, por meio do trabalho dos arquitetos Piero Portaluppi, Enrico Agostino Griffini e Ferdinando Reggiori, e passou a ser ocupado pelo Museo em 1953. Todavia, os estábulos permaneceram em ruínas.
A restauração e readequação urbano-arquitetônica do Cavallerizze só se deu, de fato, em 2016, sob a tutela do escritório ar.ch.it, de Luca Cipelletti. O projeto respeita a história e as características do ambiente e atualiza o uso de forma singular. Os volumes foram restaurados e as partes que estavam completamente destruídas ganharam novos materiais. Um destaque são as paredes monolíticas em chapas de bambu segmentadas por aberturas envidraçadas de 12 centímetros.
É nesse espaço complexo e histórico que um grupo de designers e criativos brasileiros apresenta suas criações em voos solo ou collabs: Alê Jordão; Candida Tabet; Claudia Issa; Fabio Lima e Venet Design; Felipe Protti e Mestre Artesão; Juliana Pippi e Trapos & Fiapos; Monics + Vieira e Grupo Galrão; Richard Daniel e Tironi Estofados e Ronald Sasson com Herança Cultural.
Loft AzulMilano
A Azulmilano (@lojaazulmilano), marca confirmada na próxima edição do DW! Tour Rio de Janeiro, promove o Loft AzulMilano (@loftazulmilano) com exposições e encontros em uma das primeiras fábricas de cerâmica de Milão, que passou recentemente por um processo de retrofit, em Navigli. Os arquitetos e designers Victor Niskier e Mariana Monnerat assinam a curadoria das peças em exibição no Loft, que conta ainda com duas exposições em destaque.



Brasil Behind Brazil – Raízes que transformam o Design reúne 15 criativos sob a curadoria do arquiteto, designer e professor Pedro Galaso. Entre mobiliários, luminárias, objetos decorativos e utilitários, a mostra reúne a produção recente de nomes como Álec Ramiro, Andrea Novaes, Bia Rezende, Catrin Ferreira, Estúdio Few, Fabiana Queiroga, Gabriel Freitas, Karol Suguikawa, Luciana Duque, Luisa Moysés, Manu Almeida, Nina Coimbra, Philipe Fonseca, Victor Leite e Viola Pineider.
A exposição tem como foco as histórias relacionadas à produção do mobiliário brasileiro, desde as técnicas artesanais transmitidas por gerações até os materiais nativos que traduzem a riqueza natural do país. O diálogo entre ancestralidade e contemporaneidade é o mote para a tomada do design como agente transformador acerca de questões sociais e ambientais.
A segunda atração em cartaz é a instalação da designer e artista plástica Aline Bergson. Intitulada Não sou gaiola, sou ninho, esta collab com a AzulMilano resulta em uma série limitada de corações em quartzito Azul Macaúbas abrigados em gaiolas. O conjunto chama à reflexão sobre liberdade, poder de escolha e amor. No Loft AzulMilano, a DW! promove, ainda, os encontros de relacionamento L’Aperitivo DW! – Ora Dell’Aperol, de 9 a 11 de abril, sempre das 17h às 19h.
Entre Terra e Céu – As Vozes do Design Brasileiro
Entre Terra e Céu – As Vozes do Design Brasileiro reúne design contemporâneo brasileiro sob a curadoria da Tropicalistic, em parceria com Neia Paz. O mote é a influência da biodiversidade e da cultura brasileiras, também no que tange à espiritualidade, no desenvolvimento do design. No Bianca Maria Palace Hotel, dois espaços interligados estabelecem a narrativa de equilíbrio e integração simbólicos enquanto convidam a explorar a conexão entre a terra e o céu, por meio de uma experiência visual e sensorial.




É neste contexto que está Mole, escultura volumétrica que desafia os limites entre design e arte, criada por Érico Gondim (@ericogondim.design) e mais dois outros nomes que extrapolam tal dialética e fomentam a manualidade em suas criações. Gabi Talarico (@studiogabitalarico) apresenta o painel decorativo Cânions da Terra, inspirado nas formações geológicas do rio São Francisco, produzido com retalhos de couro. Carolina Kroff (@carolinakroff) vem com suas tapeçarias contemporâneas para paredes, que utilizam fibra de algodão tingido.
Outros destaques são as peças da coleção Dawn & Dusk, do Spectro Design (@spectrodesign.co), que fizeram parte da mostra Da Cabeça às Mãos, apresentada na Boobam durante a DW! SP 2025. Da mesma exposição, saem as mesas laterais da coleção Brut, do Assimply Studio (@assimply_), diretamente para o Fuorisalone. Minimalistas, as peças são feitas com resíduos da construção como cerâmica triturada, porcelana e argamassa.
Chuva de Caju
Cre-Action é o título da ação promovida pela Interni na Università degli Studi di Milano Statale e outros seis locais espalhados pela cidade. O tema da criação é entendido como um processo dinâmico, com design, arquitetura e arte como ferramentas para a leitura, interpretação e ação no momento presente.
A ideia é estimular reflexões sobre uma nova postura, em especial do design, frente aos desafios contemporâneos. E não apenas no intuito de desenvolver formas e funções como representações individuais, mas construindo de fato espaços de ação, criação e experiência coletivas.





E é na Statale que se firma a Chuva do Caju, mostra sob curadoria de Bruno Simões. Frente a mais de mil inscrições, 57 peças representam o design brasileiro de Norte a Sul do país. A mostra segue até 17 de abril, organizada pela Apex Brasil (@apebrasil) com o apoio da Abimóvel – Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (@abimovel) e do projeto Brazilian Furniture.
“Chuva de Caju é um termo que carrega afeto e cultura, mas relata também urgência frente os desafios climáticos e sociais. Isso se materializa numa seleção de obras madura, autoral, regional, emocionante”, afirma o curador Bruno Simões.
Entre os destaques está o projeto social criado pela artista visual Elisa Lobo (@elisaloboart) há mais de duas décadas, com peças bordadas por mais de 150 artesãs do sul de Minas Gerais. As produções incluem o projeto 1+1+byKamy (@bykamy), iniciativa que foi enaltecida pela coleção Eko Vida, lançada em 2024 pela by Kamy na DW! SP.
O banco Guêra, desenvolvido pelo escritório Guá Arquitetura (@guaarquitetura), compila um mix de interesses: é um móvel desmontável revestido com borracha natural do estúdio de design e moda amazônica Da Tribu (@datribu) e finalizado com a marcenaria do ateliê VEDAC | Vestígios da Amazônia (@vestigiosvedac). Seu conceito é baseado nas histórias de resistência dos seringueiros amazônicos e a forma traduz com precisão técnica e sensibilidade os elementos da floresta.
Aliás, o ateliê VEDAC | Vestígios da Amazônia também é parceiro do LabMobili (@labmobili) na produção da linha Guamá, com resíduos de madeira de manejo florestal consciente. As peças do LabMobili estão em duas mostras: a cadeira faz parte de Chuva de Caju, e a poltrona está no já citado Entre Terra e Céu – As Vozes do Design Brasileiro.
Outro projeto interessante é o da Lepri Cerâmicas (@lepriceramicas), com a coleção Olaria Índigo. O revestimento cimentício de pequenas proporções (7×7 cm) utiliza resíduos de jeans em sua composição, minimizando o problema do descarte têxtil.
Source of Pleasure

A italiana Lavazza, fundada em Turim em 1895, é uma empresa especializada em café e produtos ligados ao grão e à bebida. Ao mesmo tempo, a marca está em consonância com a questão da sustentabilidade e busca formas inovadoras de pensar o futuro. Tablì, a novidade da Lavazza, é o primeiro sistema de tabletes 100% café que dispensa a cápsula, pensado para uma nova máquina single-coffee.
São, basicamente, pastilhas redondas de café moído e prensado – mas que envolvem mais de 15 patentes e um desenvolvimento de 5 anos. A marca afirma que, além do apelo ecológico, a novidade oferece maior rendimento por xícara e mais sabor.
Tablì é o tema que inspira a instalação Source of Pleasure, criada para a marca italiana pela arquiteta e designer brasileira Juliana Vasconcellos. O percurso entrega uma jornada multissensorial 100% café, como em Tablì, com um corredor que leva a um espaço com água e a uma experiência exclusiva no final. A instalação está em cartaz no Palazzo del Senato até 13 de abril, e a DW! esteve lá. Confira aqui o vídeo.
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