Reedição de peças autorais de Bernardo Figueiredo traz novo contexto à vida e obra do arquiteto e designer modernista

Um dos grandes nomes do modernismo brasileiro, Bernardo Figueiredo (1934-2012), acaba de ganhar reedições de peças e mobiliário, além de exposição inédita na Hill House durante a primeira edição da DW! em Brasília, de 9 a 13 de setembro de 2025. Dono de um traço pautado pela funcionalidade, pelo rigor e pela brasilidade em projetos interdisciplinares, o arquiteto e designer carioca tem sua vida e obra colocadas em nova perspectiva com os lançamentos.

“O móvel brasileiro existe quando atende às condições próprias da nossa gente. É essa exatamente minha preocupação ao criar um modelo. Proporcionar através do conforto, plástica, materiais e autenticidade, o encontro daquilo que é acima de tudo útil para quem o procure. É uma questão de identidade”, dizia Bernardo Figueiredo.

À direita, Bernardo Figueiredo mostra o conforto da Poltrona Senhor (1965), em destaque nas duas imagens | Fotos: Acervo Bernardo Figueiredo

Pesquisas e dedicação que levam às reedições

Da parceria entre o Acervo Bernardo Figueiredo e a empresa gaúcha Schuster Móveis e Design, referência em marcenaria artesanal e manufatura de mobiliário autoral, surge a reedição de três novas importantes peças da carreira do arquiteto e designer modernista, apresentadas em primeira mão em Brasília, na loja da Hill House localizada no Casapark.

A luminária Lúmem, originalmente produzida por Bernardo nos anos 1960, acompanha a família desde então. Hoje compõe a ambientação na sala da casa da filha, Angela Figueiredo. O banco Mares foi encontrado no depósito de Vera de Figueiredo, mãe de Angela Figueiredo e Adriana Figueiredo, em 2024 – e compõe o acervo da família desde os anos 60. Já o banco longo Paraty foi encontrado junto a uma coleção inédita de projetos de móveis de Bernardo, na companhia de peças como a mesa de centro Leblon e a poltrona Senhor.

“Cada reedição nasce de um processo lento de grande estudo das peças no chão de fábrica, em fotos ou em croquis, e sobretudo, de muito afeto”, conta Angela Figueiredo. “O resultado corrobora o caráter atemporal do trabalho de Bernardo, contemporâneo de Sergio Rodrigues e Joaquim Tenreiro, que juntos protagonizaram importantes transformações da arquitetura e do design brasileiro”.

Poltrona Rio e Cadeira Prima | Fotos: Acervo Bernardo Figueiredo

Angela Figueiredo está há mais de 40 anos trabalhando na área da cultura como atriz, diretora, produtora e empresária. Há alguns anos atua à frente da divulgação da obra do pai, especialmente na preservação do Acervo Bernardo Figueiredo. Junto com sua irmã, Adriana Figueiredo, trabalha para a visibilidade da obra de Bernardo em diferentes frentes, como exposições, palestras, livro, pesquisas e reedições de mobiliário.

“Relançar os móveis do Bernardo significa manter vivo o legado e a própria história do mobiliário nacional. Suas dificuldades, necessidades e propostas de solução. Tudo isso sempre apresentado uma brasilidade típica junto à discussão do jeito de ser e morar do brasileiro e suas relações com a natureza e sua filosofia própria”, comenta Wilson Schuster, diretor da Schuster Móveis.

Banco Toti e Poltrona Milhazes | Fotos: Acervo Bernardo Figueiredo

Carreira abrangente e múltipla

Formado em 1957 pela Faculdade Nacional de Arquitetura (atual FAUUFRJ), o carioca Bernardo Figueiredo iniciou sua carreira projetando edifícios, explorando o universo do design de móveis e da arquitetura de interiores em várias vertentes. Ao longo de sua carreira, traçou projetos urbanísticos, desenhou estandes para feiras nacionais e internacionais, projetos gráficos e empreendimentos comerciais, sendo pioneiro na criação de shoppings centers no país, como o Barra Shopping, inaugurado em 1981 no Rio de Janeiro.

Sua carreira esteve fortemente ligada ao Rio de Janeiro nas décadas de 1960 e 70, sobretudo a Ipanema, bairro onde nasceu e viveu – e que se tornou um dos epicentros da cultura brasileira no período.

Também trabalhou na Oca, loja intrinsecamente ligada à história do desenho industrial no Brasil, onde teve a oportunidade de conviver diretamente com Sergio Rodrigues e Inge Dodel. Sobre essas experiências, Bernardo dizia: “Inge me disciplinou, Sérgio me permitiu a intimidade com o móvel e Tenreiro me aguçou o estilo”. Desta época, entre 1963 e 1967, projetou cerca de 70 móveis de uso residencial, como a icônica poltrona Senhor, de 1965. Entre seus contemporâneos se encontram ainda Joaquim Tenreiro e Zanine Caldas, situados na gênese do mobiliário moderno no país.

Bernardo Figueiredo e Sergio Rodrigues na terceira edição do Salão Design Casa Brasil, em 2011 | Foto: Acervo Bernardo Figueiredo

A participação de Bernardo Figueiredo também foi marcante na concepção do projeto de arquitetura de interiores do Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores em Brasília, em 1967. Ele foi convidado a mobiliar as principais salas do palácio e conviveu, na ocasião, com outros nomes emblemáticos do modernismo como Oscar Niemeyer, Burle Marx, Athos Bulcão, Bruno Giorgi e, novamente, Sergio Rodrigues e Joaquim Tenreiro, também convidados a participar do projeto.

Desta época, data a cadeira dos Arcos, uma das mais icônicas do arquiteto e designer. Em 2024, a Schuster Móveis lançou apresentou a reedição da peça, que ainda hoje está presente nos espaços do Itamaraty, conhecido como Palácio dos Arcos.

Cadeira dos Arcos e Poltrona Ipanema | Fotos: Acervo Bernardo Figueiredo

“Toda a discussão da escolha dos produtos e da viabilização da reprodução é feita meticulosamente através de muitos estudos e pesquisas, até chegar o produto final, fielmente reproduzido, com respeito a toda sua história, estrutura, acabamentos e beleza”, destaca Mila Rodrigues, curadora de produtos Schuster Móveis. A empresa está envolvida com pesquisas sobre a obra de Bernardo Figueiredo há 15 anos e reedita desde 2017 peças consagradas do designer, além de cuidar pessoalmente da restauração de alguns itens originais do modernista.

Não por acaso, o design de Bernardo vem atravessando décadas, mantendo relevância e originalidade, presentes nas reedições lançadas na Hill House em Brasília. A loja realizou, ainda durante a DW!, a exposição Forma, Função e Traço de Bernardo Figueiredo, reunindo fotos e documentos de arquivos, mobiliários e objetos que revisitam essa história fundamental do design brasileiro em nova perspectiva.

Quer saber mais? Acesse no Instagram os perfis da Hill House e do Acervo Bernardo Figueiredo.

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